15.04.2013 Views

Prosa - Academia Brasileira de Letras

Prosa - Academia Brasileira de Letras

Prosa - Academia Brasileira de Letras

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Tarcísio Padilha<br />

ções e a natureza. Se talvez se imponha uma espécie <strong>de</strong> ONU para a prevalência<br />

do pensamento e das manifestações superiores do espírito, não é menos<br />

verda<strong>de</strong> que cabe aos seres humanos, hic et nunc, a par das verda<strong>de</strong>s alcançadas, a<br />

aceitação do mistério que nos envolve e <strong>de</strong> que colhemos parte expressiva <strong>de</strong><br />

nossa riqueza pessoal e solidária.<br />

Ao lado da razão, cumpre <strong>de</strong>svendar o complexo território da espiritualida<strong>de</strong>.<br />

Aqui se entreabre o espaço para atingirmos até o plano místico, bem longe<br />

do discurso racional e suas verda<strong>de</strong>s apodíticas. É o elevado patamar da mística<br />

que nos atrai e nos fascina. Visto como um “cognitio Dei experimentalis”, a<br />

mística nos revela um bom senso superior, como sentencia Henri Bergson gera<br />

o clima <strong>de</strong> certa unificação <strong>de</strong> soluções, ao volver as costas a uma problematização<br />

paranóica que aco<strong>de</strong> a muitos espíritos. Expressa o modo humano <strong>de</strong> revelar<br />

uma realida<strong>de</strong> que nos suplanta e que nos alimenta. E uma experiência<br />

transcen<strong>de</strong>ntal que sinaliza para o que ultrapassa o dia-a-dia <strong>de</strong> todos nós e, assim,<br />

alumia nossos caminhos e nos permite <strong>de</strong>sfrutar da alegria interior sem a<br />

qual a vida se estiola.<br />

O escapismo ao racional não se pren<strong>de</strong> necessariamente ao primado do espírito.<br />

Este, em sua dimensão, conglomera riqueza sem par. Daí porque cumpre<br />

ter presente a palavra <strong>de</strong> Karl Jaspers: “o irracional é um termo puramente<br />

negativo: a matéria com relação à forma geral, o arbitrário por comparação ao<br />

ato conforme às leis, o fortuito face ao necessário. O irracional, enquanto negativida<strong>de</strong>,<br />

é conforme os casos um resíduo obscuro, seja um resíduo a rejeitar.<br />

O pensamento se esforça por reduzir este resíduo ao mínimo... O irracional<br />

não é algo em si, mas enquanto pura negativida<strong>de</strong>, o limite... do geral”.<br />

Hei<strong>de</strong>gger avança bem mais ao sustentar que “pensar contra a lógica não<br />

significa quebrar lanças em favor do ilógico, mas apenas: volver em sua reflexão<br />

ao logos e à sua essência nos primórdios do pensamento”.<br />

Há que discernir o irracionalismo da irracionalida<strong>de</strong>. O primeiro ambiciona<br />

direcionar a inteligência a privilegiar tudo o que contraria os códigos lógicos.<br />

Já a segunda diz respeito à ampliação do espaço intelectual e afetivo – nos<br />

limites scheleriano <strong>de</strong> simpatia – a fim <strong>de</strong> melhor captar a diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> as-<br />

76

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!