Prosa - Academia Brasileira de Letras
Prosa - Academia Brasileira de Letras
Prosa - Academia Brasileira de Letras
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Hannah Arendt: Da filosofia política à ciência política<br />
como eu disse, porque o pensamento tenta alcançar profundida<strong>de</strong>, chegar às<br />
raízes, e o momento em que se ocupa do mal é frustrado porque não há<br />
nada. Essa é a sua ‘banalida<strong>de</strong>’. Apenas o bem tem profundida<strong>de</strong> e po<strong>de</strong> ser<br />
radical.”<br />
O mal extremo <strong>de</strong>ver ser combatido, até extirpado, porque não é punível<br />
por padrões convencionais: é não-perdoável por estar abaixo do entendimento<br />
humano.<br />
Esta é a tarefa do cidadão, por <strong>de</strong>ver cívico enquanto parte do <strong>de</strong>ver-ser universal.<br />
Quanto ao cientista político, ele necessita distinguir seus metodológicos<br />
juízos <strong>de</strong> realida<strong>de</strong> diante dos superiores juízos <strong>de</strong> valor, transcen<strong>de</strong>ntais tanto<br />
no sentido imanentista kantiano quanto no mais amplo fenomenológico.<br />
Interrogada, em um <strong>de</strong>bate em torno da sua obra na Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> York,<br />
sobre “O que é você? uma conservadora? uma liberal? Qual sua posição <strong>de</strong>ntro<br />
das possibilida<strong>de</strong>s contemporâneas?” – ela respon<strong>de</strong>u:<br />
“Não sei. Eu realmente não sei e nunca soube. E suponho que nunca tive<br />
qualquer posição assim. Você sabe que a esquerda pensa que eu sou conservadora<br />
e os conservadores às vezes pensam que sou da esquerda, ou dissi<strong>de</strong>nte<br />
ou sabe Deus o quê. Devo dizer que não po<strong>de</strong>ria preocupar-me menos.<br />
Não penso que as verda<strong>de</strong>iras questões <strong>de</strong>ste século receberão qualquer<br />
espécie <strong>de</strong> esclarecimento <strong>de</strong>ssa maneira.”<br />
Responsabilida<strong>de</strong> ainda maior a do professor perante estudantes, ainda nas<br />
palavras <strong>de</strong> Hannah Arendt:<br />
“Não acredito que nós tenhamos, ou possamos ter, tal influência nesse sentido.<br />
Eu penso que o compromisso po<strong>de</strong> facilmente levar-nos a um ponto<br />
em que não se pensa mais. Há certas situações extremas nas quais é preciso<br />
133