Prosa - Academia Brasileira de Letras
Prosa - Academia Brasileira de Letras
Prosa - Academia Brasileira de Letras
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
A intenção galhofeira do autor se anuncia nos títulos: “A chuvarada”;<br />
“Hino à tristeza inspiradora dos poetas mo<strong>de</strong>rnos”; “Em louvor da cida<strong>de</strong> alagada”;<br />
“O abajur”, e, o mais expressivo <strong>de</strong> todos: “A plangência lilás <strong>de</strong> um<br />
sino que vibra na torre da minha emotivida<strong>de</strong>.”<br />
Por meio <strong>de</strong> uma safra <strong>de</strong> poemas publicada na referida coluna, Paulo Geraldino<br />
<strong>de</strong>stila sua mordacida<strong>de</strong> e torna grotescas as características do penumbrismo.<br />
É o que se comprova lendo a seção <strong>de</strong> 24 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1922. Nessa<br />
data são publicados dois poemas: o <strong>de</strong> Ribeiro Couto, intitulado “No cais”,<br />
(<strong>de</strong> O Jardim das Confidências),eo<strong>de</strong>Paulo Geraldino, sob o título “Como sente<br />
um poeta do futuro a alma triste <strong>de</strong> uma tar<strong>de</strong> outonal”.<br />
Se Couto, em “No cais”, abusa das reticências, das repetições e exclamações,<br />
Geraldino, ao parodiá-lo, amplia as hesitações, carrega nas sombras, na<br />
melancolia, criva o poema <strong>de</strong> interrogações e imprime o tom chistoso por<br />
meio, sobretudo, dos adjetivos:<br />
Abro a janela...<br />
Um céu <strong>de</strong> névoa, azinhavrado e triste,<br />
Traz-me à lembrança uma menina bela,<br />
que ainda existe... ainda existe...<br />
Quantas recordações...<br />
Uma tar<strong>de</strong> outonal, soturna como aquela,<br />
De aquarela...<br />
Ai! Uma tar<strong>de</strong> assim,<br />
tar<strong>de</strong> <strong>de</strong> brumas, tar<strong>de</strong> merencória,<br />
que é, para mim,<br />
toda <strong>de</strong> evocações<br />
da minha primeira história<br />
<strong>de</strong> amor...<br />
Oh! que <strong>de</strong> sensações!<br />
Sonho um sonho violáceo <strong>de</strong> morfina,<br />
O penumbrismo<br />
141