Prosa - Academia Brasileira de Letras
Prosa - Academia Brasileira de Letras
Prosa - Academia Brasileira de Letras
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Vamireh Chacon<br />
agir. Mas essas situações são extremas... e penso... o teórico que diz aos seus<br />
alunos o que pensar e como agir é..., meu Deus!, eles são adultos. Não estamos<br />
no berçário.”<br />
Elizabeth Young-Bruehl, primeira gran<strong>de</strong> biógrafa <strong>de</strong> Hannah Arendt,<br />
mostra como sua analisada “recusou o papel para o qual esses homens<br />
(Husserl, Hei<strong>de</strong>gger, Jaspers) haviam-na preparado”. Ela preferiu se tornar<br />
“historiadora e cientista política”, “mas o modo <strong>de</strong> redirecionar a filosofia<br />
revelou-se bem <strong>de</strong>vagar”. O que Hannah Arendt trouxe, para si e os<br />
outros da filosofia à ciência política, foi um “lógos”, coerente e amadurecido<br />
por meditações <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as das leituras às suas experiências pessoais no tão<br />
conturbado século XX. Formadoras <strong>de</strong> uma “areté”, pensada e vivida virtu<strong>de</strong><br />
cívica e universal, capaz <strong>de</strong> contribuir a uma “paidéia” acadêmica no melhor<br />
sentido da palavra, nos seus longos anos <strong>de</strong> professora e conferencista<br />
universitária, respeitando as opções políticas dos ouvintes e leitores, quando<br />
razoáveis, não só racionais. A razoabilida<strong>de</strong>, mais que o racionalismo, é<br />
marca fundamental do pensamento e ação <strong>de</strong> Hannah Arendt. A longa<br />
convivência com o empirismo e pragmatismo anglo-saxônicos completaram<br />
sua metodologia e visão do mundo, vindo da Alemanha fenomenológica<br />
pós-kantiana.<br />
Quando Hannah Arendt encontrava filósofos em busca da verda<strong>de</strong> em si,<br />
admirava-os, porém continuava preferindo consi<strong>de</strong>rar a filosofia mais como<br />
perguntas que respostas, na linha remontado à maiêutica socrática e daí ao<br />
“Que sais-je ?” <strong>de</strong> Montaigne e “docta ignorantia” <strong>de</strong> Cusano, conforme ela mesmo<br />
dizia.<br />
Não se trata <strong>de</strong> absenteísmo, Hannah Arendt foi clara também a respeito:<br />
“Ninguém po<strong>de</strong> ser feliz sem participar da felicida<strong>de</strong> pública, ninguém<br />
po<strong>de</strong> ser livre sem a experiência da liberda<strong>de</strong> pública, e ninguém, finalmente,<br />
po<strong>de</strong> ser feliz ou livre sem envolver-se e fazer parte do po<strong>de</strong>r político.”<br />
134