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Prosa - Academia Brasileira de Letras

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Vamireh Chacon<br />

passa então a ser julgado enquanto social como já Péricles o <strong>de</strong>finia no seu discurso<br />

recolhido por Tucídi<strong>de</strong>s.<br />

O que mais tem <strong>de</strong> ser respeitado pela participação é o trabalho enquanto<br />

processo e resultado.<br />

Ao distinguir labor e trabalho, Hannah Arendt recorre à análise fenomenológica<br />

e à histórica, indo mesmo à semântica.<br />

O extraordinário impacto do imenso aumento da produtivida<strong>de</strong> na primeira<br />

Revolução Industrial, a ser seguida por outros ainda maiores, foi o que <strong>de</strong>spertou<br />

a atenção <strong>de</strong> Marx pela fundamentalida<strong>de</strong> da questão do trabalho <strong>de</strong><br />

individual a social, <strong>de</strong> isolado a massificado. O ser humano cada vez mais multiplicava<br />

em “homo faber” suas aptidões <strong>de</strong> “homo sapiens”, através <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong><br />

socialização.<br />

A diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>ração pelo seu tratamento e resultado foi inicialmente<br />

pública, mostra-a Hannah Arendt:<br />

“Aquelas ocupações que envolvem ‘pru<strong>de</strong>ntia’, a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> julgamento<br />

pru<strong>de</strong>nte que é a virtu<strong>de</strong> do estadista, e as profissões <strong>de</strong> relevância pública<br />

(“ad hominum utilitatem”), como a arquitetura, a medicina e a agricultura, são<br />

profissões liberais.” Servis todas as outras dos trabalhadores braçais aos manuais<br />

e mesmo os escribas.<br />

A“pru<strong>de</strong>ntia” romana advém da equivalente “phrónesis” grega, louvada por<br />

Aristóteles como virtu<strong>de</strong> pública básica das <strong>de</strong>mais. Os Livros Sapienciais<br />

bíblicos somam-se a estas linhas na formação da cultura oci<strong>de</strong>ntal. O historiador<br />

holandês Huizinga lembrou também a dignida<strong>de</strong> do jogo intelectual<br />

do “homo lu<strong>de</strong>ns”, ao lado do “sapiens”e“faber”, o bardo homérico com o<br />

herói mítico.<br />

A crescente dignificação do trabalho manual, criativo pelo “homo faber”, voltou<br />

a contrapor-se às penas do inicial “animal laborans”, redivivas e aumentadas<br />

pela monotonia e riscos dos repetitivos trabalhos da Revolução Industrial,<br />

como se vêem caricaturados no filme Tempos mo<strong>de</strong>rnos por Charlie Chaplin.<br />

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