Prosa - Academia Brasileira de Letras
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Joaquim <strong>de</strong> Montezuma <strong>de</strong> Carvalho<br />
gran<strong>de</strong>s feitos. E o sinal on<strong>de</strong> se isto mais claro<br />
vê é na música, que naturalmente acerca <strong>de</strong> cada<br />
nação segue o modo da fala: linguagem grave,<br />
música grave e sentida.”<br />
Assim, Unamuno como que, em parte, atualiza a visão <strong>de</strong> João <strong>de</strong> Barros,<br />
embora se esqueça <strong>de</strong> mencionar a língua do vizinho Portugal. Os quinhentos<br />
anos <strong>de</strong> separação não fizeram esquecer os juízos, antes os irmanam. O triângulo,<br />
João <strong>de</strong> Barros, Camões e Unamuno torna-se evi<strong>de</strong>nte e incontornável<br />
(palavrão <strong>de</strong> agora para fingir leitura, estima, etc.).<br />
Julgo que <strong>de</strong>monstrei algo importante. Mas há algo ainda por expressar e que<br />
nem Barros, nem Camões, nem Unamuno explicaram: – qual a força que tutelou<br />
esta realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> línguas peninsulares (a portuguesa, a castelhana dita espanhola)<br />
mais latinas do que a latina? Mais até do que o italiano <strong>de</strong> berço e matriz?<br />
Durante a romanização da Península Hispânica pela Imperial Roma língua portuguesa<br />
começa a naturar-se através do <strong>de</strong>senvolvimento do latim falado. Há, porém,<br />
na língua portuguesa elementos célticos, fenícios, gregos, árabes, germânicos e, após<br />
os <strong>de</strong>scobrimentos, léxico africano, asiático, americano, bem como termos oriundos<br />
<strong>de</strong> línguas feitas como o francês, o castelhano, o italiano, o inglês, etc.<br />
Mas apesar <strong>de</strong> tudo isto, o esqueleto e a vitalida<strong>de</strong>éa<strong>de</strong>origem latina. A que<br />
se <strong>de</strong>ve isto? A que se <strong>de</strong>ve, no relógio temporal das gerações, que as línguas por<br />
cá existentes e anteriores à ocupação romana se tenham como que volatilizado?<br />
Não se <strong>de</strong>ve propriamente à romanização (esta era uma civilização imperial sem<br />
textos sagrados, sem livros <strong>de</strong> relação com Deus), mas ao que lhe sobreveio<br />
quando o cristianismo passou a religião do império Romano, algo que irá perdurar<br />
<strong>de</strong>pois da queda do Império e a dispersão (a Roma sem as ré<strong>de</strong>as nas mãos<br />
condutoras, passando o trono <strong>de</strong> César a ser a ca<strong>de</strong>ira do Sumo Pontífice.)<br />
Deve-se sim à existência <strong>de</strong> textos sagrados, à religião do livro, à patência<br />
das Sagradas Escrituras. O latim cristão passa a ser o cimento porque escrito (a<br />
forma da correção, a da minoria que se impõe à da maioria, com um latim culto<br />
radicalmente conservador).<br />
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