Prosa - Academia Brasileira de Letras
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O humanismo na socieda<strong>de</strong> tecnológica <strong>de</strong> massas<br />
vo, é uma proposta falsa, largamente <strong>de</strong>smistificada, já que os atuais níveis <strong>de</strong><br />
consumo das minorias prósperas das socieda<strong>de</strong>s acomodadas não se mostram<br />
suscetíveis <strong>de</strong> qualquer generalização mais ampla.<br />
A <strong>de</strong>sestruturação da visão do mundo, iniciada no último terço do século<br />
XIX, privou o homem, com a <strong>de</strong>sestruturação final do i<strong>de</strong>al socialista, no<br />
contexto da socieda<strong>de</strong> tecnológica <strong>de</strong> massas, <strong>de</strong> projeto e <strong>de</strong> sentido. O homem<br />
se tornou uma peça, intrinsecamente sem valor próprio, do aparelho<br />
existencial <strong>de</strong> massas. O homem se tornou, <strong>de</strong> presi<strong>de</strong>nte a operário, uma<br />
simples função. O homem se tornou <strong>de</strong>scartável. A gravida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa situação<br />
não está propriamente no fato <strong>de</strong> que caracteriza o momento histórico atual,<br />
e sim no fato <strong>de</strong> que não é um produto <strong>de</strong> contingências circunstanciais e sim<br />
do próprio <strong>de</strong>senvolvimento cultural do homem. Tal como observou Sorokin<br />
em sua “Dynamics of Civilizations”, o <strong>de</strong>senvolvimento cultural do homem<br />
foi, historicamente falando, um processo <strong>de</strong> contínua <strong>de</strong>ssacralização<br />
do mundo. O cosmos mágico da Mesopotâmia e do Egito antigos ce<strong>de</strong> lugar<br />
ao logos grego, cujo sentido <strong>de</strong> transcendência eidética converte-se, com o<br />
Cristianismo, em transcendência ontológica, levando à <strong>de</strong>ssacralização da<br />
Natureza. A Natureza <strong>de</strong>ssacralizada permite o <strong>de</strong>senvolvimento da ciência<br />
e da tecnologia. O produto final do <strong>de</strong>senvolvimento científico-tecnológico,<br />
que culmina no processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>ssacralização do mundo, leva a um cosmos<br />
<strong>de</strong>sprovido <strong>de</strong> sentido, em cujo âmbito o homem da socieda<strong>de</strong> tecnológica<br />
<strong>de</strong> massas permanece <strong>de</strong>sprovido <strong>de</strong> projeto, per<strong>de</strong>ndo seu próprio sentido e<br />
se converte no homem <strong>de</strong>scartável.<br />
A Problemática<br />
O mundo contemporâneo enfrenta cinco problemas básicos. Um, <strong>de</strong> caráter<br />
ético-cultural, <strong>de</strong>corre da perda <strong>de</strong> todos os valores transcen<strong>de</strong>ntes e transcen<strong>de</strong>ntais<br />
– a verda<strong>de</strong>, o justo e o belo. Quatro, <strong>de</strong> caráter socioempírico: (1)<br />
o <strong>de</strong> uma estável e confiável compatibilização da legitimida<strong>de</strong> <strong>de</strong>mocrática<br />
com a racionalida<strong>de</strong> pública; (2) o da administração racional e eqüitativa da<br />
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