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Prosa - Academia Brasileira de Letras

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Helio Jaguaribe<br />

tivos que enfrentam, levando-as a opções racionais. Assim, está assegurada<br />

uma razoável compatibilização estável da legitimida<strong>de</strong> <strong>de</strong>mocrática com a<br />

racionalida<strong>de</strong> pública.<br />

O segundo macroproblema <strong>de</strong> caráter socioempírico enfrentado por nossos<br />

tempos po<strong>de</strong> ser abordado <strong>de</strong> maneira extremamente simples. Trata-se do fato<br />

<strong>de</strong> que a socieda<strong>de</strong> industrial passou, nas últimas décadas, a um nível <strong>de</strong> agressão<br />

da biosfera crescentemente superior à sua capacida<strong>de</strong> espontânea <strong>de</strong> reequilíbrio.<br />

Os eflúvios poluidores lançados anualmente nas águas e no ar, bem<br />

como os efeitos produzidos sobre a camada protetora <strong>de</strong> ozônio, afetam severamente<br />

a ecologia do planeta. Calcula-se que provocarão danos irreversíveis<br />

num prazo muito curto, alguns dos quais, como o aquecimento do planeta, já<br />

se fazendo sentir, se não se adotar imediatamente uma série <strong>de</strong> medidas para a<br />

preservação da biosfera. Existe um consenso teórico mundial a esse respeito, a<br />

que se chegou durante a primeira <strong>de</strong>liberação importante que teve lugar durante<br />

a Rio-92, mas quase nada está sendo feito nesse sentido. O planeta corre o<br />

risco <strong>de</strong> tomar-se inabitável no século XXI.<br />

O terceiro macroproblema também socioempírico po<strong>de</strong> ser abordado <strong>de</strong><br />

maneira sintética. Trata-se do fato <strong>de</strong> que, <strong>de</strong>vido a um déficit <strong>de</strong> racionalida<strong>de</strong><br />

pública – além <strong>de</strong> outros fatores – a maioria do mundo continua em condições<br />

<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> atraso e sub<strong>de</strong>senvolvimento. No entanto, o mundo não será<br />

viável se continuar a existir a brecha Norte-Sul e gran<strong>de</strong>s estratos <strong>de</strong> excluídos.<br />

As pressões migratórias do Sul para o Norte vão tornar-se tão irresistíveis<br />

quanto as pressões migratórias dos bárbaros sobre o Império Romano. O<br />

Norte – e neste os setores afluentes – enfrentam o dilema <strong>de</strong> serem incapazes<br />

<strong>de</strong> preservar, concomitantemente, seus valores civilizados e seu alto nível <strong>de</strong><br />

prosperida<strong>de</strong>, se continuarem cercados por uma imensa e crescente população<br />

<strong>de</strong> miseráveis e ignorantes. Para frear as pressões migratórias e a criminalida<strong>de</strong>,<br />

ver-se-ão forçados a tomar medidas extremamente duras que implicam, direta<br />

ou indiretamente, em formas <strong>de</strong> genocídio, que afetarão seus valores internos.<br />

Para preservar esses valores, terão, a<strong>de</strong>mais <strong>de</strong> problemas domésticos, <strong>de</strong> aceitar<br />

a entrada <strong>de</strong> migrantes do Sul em proporções <strong>de</strong>sestabilizadoras.<br />

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