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Escritoras Mineiras: Poesia, Ficção e Memória - FALE - UFMG

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Além da homenagem prestada ao pai, é possível detectar outra ho-<br />

menagem familiar, dessa vez às avós Maria e Ester, no poema “Herança”:<br />

De Maria<br />

a voz sem eloqüência<br />

os cabelos longos<br />

a origem sem começo<br />

a cor.<br />

De Esther<br />

o fio das palavras<br />

os olhos míopes<br />

a história sem desfecho<br />

a dor. 5<br />

Em O livro de Zenóbia, temos uma narrativa que se assemelha ora<br />

a um diário ora a um álbum de família, desenvolvida de forma atemporal<br />

em torno de uma personagem do interior que vive na simplicidade do seu<br />

dia a dia. Retrata as miudezas de sua vida e seu jeito espontâneo de ser.<br />

A narradora descreve desde coisas triviais a inquietações do cotidiano de<br />

Zenóbia. A personagem escreve listas e receitas e constrói álbuns de família.<br />

Nesse sentido, Zenóbia apresenta ao leitor seus sonhos, seus peixes<br />

prediletos, suas memórias de vida. É essa delicadeza e sensibilidade de<br />

Zenóbia que permite ao leitor se aproximar e se enxergar na poesia de<br />

Maria Esther. A musicalidade de seus versos é observada no capítulo “De<br />

sombras e assombros”: “Dê-me um dia branco, mas sem lua – ela pediu. De<br />

fato, buscava um dia em que não pudesse saber mais das coisas, em que<br />

esquecesse todos os nomes e todas as cores das flores de sua antiga casa.” 6<br />

Zenóbia nos mostra ainda que “o lugar de nosso nascimento estará<br />

conosco até o fim. Por isso ela carrega na pele a cor de sua terra e sempre<br />

que experimenta uma fruta amarela, a memória lhe traz o gosto da<br />

manga e da laranja que lhe deixou a infância.” 7 Com extrema delicadeza,<br />

o romance nos revela um jeito de ser interiorano e prosaico, mas que,<br />

contraditoriamente, vai se tornando inquietante e perturbador.<br />

Dentro dessa prática, a poeta Maria Esther parece nos convidar a<br />

experimentar o fulgor das palavras, e nós somos entregues à beleza de<br />

sua escrita. Suas obras estão aí para provar.<br />

5 MACIEL. Triz, p. 65.<br />

6 MACIEL. O livro de Zenóbia, p. 69.<br />

7 MACIEL. O livro de Zenóbia, p. 99.<br />

Referências<br />

CASTELLO BRANCO, Lucia. Por um triz. Suplemento Literário de Minas Gerais. Belo Horizonte, n.<br />

47, p. 39, maio 1999.<br />

MACIEL, Maria Esther. Dos haveres do corpo. Belo Horizonte: Editora Terra, 1984.<br />

MACIEL, Maria Esther. Triz. Belo Horizonte: Orobó Edições, 1998.<br />

MACIEL, Maria Esther. Fortaleza; Belo Horizonte, fev.-mar. 2003. Entrevista concedida a Floriano<br />

Martins. Disponível em: .<br />

Acesso em: 13 out. 2009.<br />

MACIEL, Maria Esther. O livro de Zenóbia. Rio de Janeiro: Lamparina, 2004.<br />

MACIEL, Maria Esther. Entrevista concedida a Luiz Alberto Machado. Disponível em: . Acesso em: 18 maio 2007.<br />

Maria Esther Maciel. Desenvolvido por Ronaldo Brito Roque. Apresenta informações sobre a<br />

escritora, ensaísta e professora Maria Esther Maciel. Disponível em: . Acesso em 8 jan. 2007.<br />

108 Estilo, poética e vida A dicção poética de Maria Esther Maciel 109

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