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Escritoras Mineiras: Poesia, Ficção e Memória - FALE - UFMG

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“Luana” emociona-nos ao relatar o triste fim de uma garota negra<br />

e pobre da periferia de São Paulo:<br />

No hospital, a notícia: Luana morreu. A mãe quando chegou ao<br />

cemitério gritava a dor do mundo. Nada a consolava. Ninguém tinha<br />

força para ampará-la: “Minha filha, o que fizeram com você?” Ao<br />

Diogo contaram que a mamãe Luana, como ele chamava, tinha<br />

ido para o céu. O pequeno passou muitos dias olhando para o alto<br />

e perguntando: “Mamãe Luana, quando você vai descer daí? Vem<br />

embora, eu tô com saudade”. 8<br />

Termino citando um pequeno trecho do último texto do livro, que<br />

não deixa dúvidas quanto ao posicionamento de Cidinha da Silva diante<br />

da literatura e do ato político de escrever.<br />

Referências<br />

Escrevo para me vingar. Declarou Marcelino durante a oficina. De<br />

um sentimento, uma situação, um (des)amor.<br />

Imagine que eu também me vingue.<br />

Negrinha ressentida. Você não acha que essa amargura que o negro<br />

carrega no peito é a causa principal do racismo? 9<br />

DUARTE, Eduardo de Assis. Literatura e afro-descendência. In: _____. Literatura, política, identidades.<br />

Belo Horizonte: <strong>FALE</strong>-<strong>UFMG</strong>, 2005. p. 113-131.<br />

DUARTE, Eduardo de Assis. <strong>Memória</strong> viva. Estado de Minas, 6 maio 2006. Caderno Pensar, p. 1-3.<br />

FERREIRA, Vera Lúcia da Silva Sales. Da dor e da alegria dos tridentes: fios que encenam a<br />

vida social e política brasileira: contos de Cidinha da Silva. In: CUNHA, Helena Parente (Org.).<br />

Quem conta um conto: estudos sobre contistas brasileiras estreantes nos anos 90 e 2000. Rio<br />

de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2008.<br />

SILVA, Cidinha da. Cada tridente em seu lugar. 2. ed. rev. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2007.<br />

SOUZA, Florentina; LIMA, Maria Nazareth (Org.). Literatura afro-brasileira. Salvador: Centro de<br />

Estudos Afro-Orientais, 2006.<br />

VAZ, Zélia Maria. Ironia e humor como valorização étnica e crítica social na obra Cada tridente em<br />

seu lugar. Disponível em: . Acesso em: 7 maio 2009.<br />

8 SILVA. Cada tridente em seu lugar, p. 63.<br />

9 SILVA. Cada tridente em seu lugar, p. 91.<br />

90 Tradição e contemporaneidade<br />

Yeda Prates Bernis:<br />

poesia para habitar corações<br />

Vera Godoy<br />

A melhor forma de iniciar uma apresentação de Yeda Prates Bernis, com<br />

certeza é lembrando um de seus poemas. Por isso, escolho começar com<br />

“Receita para um haicai”:<br />

Se você quer compor um haicai,<br />

à moda de Bashô,<br />

mesmo imperfeito, verifique primeiro<br />

se viveu inúmeras vidas.<br />

Comece por despojar-se do supérfluo<br />

das vestes da alma:<br />

paletó de esnobismo<br />

camisas de inquietude,<br />

agasalhos do orgulho,<br />

meias de apegos.<br />

Deixe o espírito, em síntese, aquietar-se,<br />

desnudo.<br />

Perceba o cintilar da essência de tudo<br />

que o rodeia.<br />

Veja o mundo com o olhar dos anjos,<br />

faça de seus ouvidos concha de<br />

inocência,<br />

imite o Poeta Francisco.<br />

Deixe que o silêncio<br />

seja sua própria carne.<br />

Junte, no embornal da viagem<br />

às sendas de Oku<br />

da vida, poucas palavras:<br />

lua, folhagem, templo, relva, primavera,<br />

garça, brisa.<br />

E, por que não?

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