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Escritoras Mineiras: Poesia, Ficção e Memória - FALE - UFMG

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somos, sirvamos à sua fome, – fome de tantos. 12<br />

O tom introspectivo e reflexivo, característica marcante na obra des-<br />

ta poeta, está presente também quando o tema é o próprio fazer poético.<br />

Ciente de que a arte poética não representa uma saída para os conflitos com<br />

a vida e com o mundo, não faz cessar a dor e a inquietude, não resolve os<br />

problemas do homem, a poesia se dá como forma de autoconhecimento:<br />

Canto. E apenas sei<br />

do ar sonoro.<br />

O verbo<br />

surdo, – vibra agora.<br />

E me diz (eu que pensara falar<br />

escuto:)<br />

simples verdade intermédia<br />

de alma e de ar:<br />

meu verso! 13<br />

Diante da incompatibilidade com o mundo e com os homens, a<br />

poesia parece ser abrigo a partir do qual busca exprimir-se; mais que<br />

isso, a poesia será parte do eu que segue consciente da precariedade<br />

de qualquer tentativa de se comunicar. Sobre seu processo criativo, vale<br />

lembrar o depoimento de sua irmã, Maria Lúcia Alvim:<br />

Você não surpreendia Ângela, assim, como você surpreendia saindo<br />

para um compromisso, saindo para uma viagem, escrevendo um relatório,<br />

falando com as colegas sobre estudos, sobre programações...<br />

não... a poesia era silenciosa... ela fazia poesia como ela respirava... 14<br />

O fazer poético, as inerentes etapas de labor literário, se faziam de<br />

forma silenciosa, intuitiva: é o que atestam as palavras de quem conviveu<br />

com a poeta. O mesmo silêncio também foi sentido por quem conviveu<br />

com seus versos, como bem observou Alexandre Eulalio ao afirmar que<br />

Maria Ângela Alvim estava “À procura antes do silêncio do que da palavra,<br />

de um silêncio que contém e acaba por absorver a palavra da qual ele<br />

germinou.” 15 Diria, portanto, ao fechar as páginas de Poemas, livro que<br />

12 ALVIM. Poemas, p. 106.<br />

13 ALVIM. Poemas, p. 62.<br />

14 Entrevista concedida por Maria Lúcia Alvim a Antonio Luceni dos Santos e inserida nos anexos da<br />

dissertação A poesia de Maria Ângela Alvim: nas fronteiras do cânone, de 2008.<br />

15 EULALIO. Um estudo, p. 147.<br />

reúne o legado poético da autora, que Maria Ângela Alvim viveu em busca<br />

da poesia e se a sua foi uma “poesia silenciosa”, esta continua a ecoar<br />

baixinho, ainda hoje, cinco décadas após sua partida, à procura de ouvidos<br />

atentos à inquietude de seus versos, de onde emanam indagações sem<br />

respostas, lamento contido de uma dor recôndita.<br />

Referências<br />

ALVIM, Maria Ângela. Poemas. 3. ed. São Paulo: Editora UNICAMP, 1993.<br />

ALVIM, Maria Ângela. Superfície: toda poesia. Lisboa: Assírio & Alvim, 2002.<br />

ANDRADE, Carlos Drummond de. Notícias literárias. In: ALVIM, Maria Ângela. Poemas. 3. ed. São<br />

Paulo: Editora UNICAMP, 1993. p. 139-142.<br />

ANDRADE, Carlos Drummond de. Passagem. In: ALVIM, Maria Ângela. Superfície: toda poesia.<br />

Lisboa: Assírio & Alvim, 2002. p. 11-12.<br />

EULALIO, Alexandre. Um estudo. In: ALVIM, Maria Ângela. Poemas. 3. ed. São Paulo: Editora<br />

UNICAMP, 1993. p. 143-147.<br />

MORICONI, Ítalo. Os cem melhores poemas brasileiros do século. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.<br />

SANTOS. Antonio Luceni dos. A poesia de Maria Ângela Alvim: nas fronteiras do cânone. Dissertação<br />

(Mestrado em Estudos Literários) – Universidade Federal do Mato Grosso do Sul,<br />

Três Lagoas, 2008. Disponível em: . Acesso em: 12 fev. 2009.<br />

SEFFRIN, André. Roteiro da poesia brasileira: anos 50. São Paulo: Global, 2007.<br />

72 <strong>Ficção</strong> e poesia Maria Ângela Alvim: a poética da inquietude 73

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