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Escritoras Mineiras: Poesia, Ficção e Memória - FALE - UFMG

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quase impossível. Num mundo idealizado as realizações de grande escala<br />

se efetuam quase sempre sem choques, nem atritos.<br />

Segundo Isaac Newton, “o Tempo Absoluto flui sem a influência de<br />

nenhuma força externa, com duração eterna”. Conforme o autor citado,<br />

o Tempo segue a natureza e não é afetado pelas circunstâncias alheias.<br />

Por outro lado, o filósofo Immanuel Kant classificou o Tempo junto com<br />

o Espaço. Neste caso, novamente devemos interpretar o movimento da<br />

Europa sob o ponto de vista de que o Tempo e o Espaço já existiam em<br />

nossas mentes antes mesmo de qualquer ação que aprendêssemos, sob<br />

a forma de ondas suaves. Tudo o que queremos ser e a maneira como<br />

queremos viver são escolhas nossas.<br />

A ideia nos traz de volta o fato de que a hereditariedade abriga uma<br />

das chaves do Tempo e que nós ainda não tivemos a sorte de decodificá-la,<br />

mas que está intimamente ligada aos sentimentos. De fato, nos afeta o<br />

Tempo e sentimos que passa além. E esse fenômeno ocorrido em qualquer<br />

experiência da vida segue a linha básica do conhecido para o desconhecido.<br />

Ao desenvolver as minhas reflexões sobre o Tempo, consegui entender<br />

certo envolvimento no percorrer do preparo deste trabalho. Isto se<br />

evidenciou nos riscos múltiplos, definidos por alguns como predestinação.<br />

Para encontrar um novo ponto de vista, a fim de não estranhar o<br />

comportamento humano, me refugiei na objetividade, especialmente nos<br />

momentos fulminantes do bombardeio de Dresden. Pois o ângulo menos<br />

considerado pelos historiadores é a natureza. A natureza humana. Sua<br />

estrutura psíquico-espiritual. Sua participação na existência de costumes,<br />

ideias, crenças é superestruturada e nunca questionada.<br />

Henriqueta Lisboa, após a terceira leitura do livro, pronunciou:<br />

“Gostei.” E continuou: “Existe no livro uma diferença entre as fontes que<br />

as informações históricas fornecem e as anotações da autora publicadas.<br />

Estas fazem parte dela, parte da história vivida naquele período e que<br />

chega até nós como uma comunicação respeitável.”<br />

Na palavra respeitável ela reconheceu que a prova histórica ultrapassou<br />

a jurídica, pois a convivência pacífica que existia nas terras húngaras,<br />

eslavas e alemãs, antes da era Hitler e Stalin, sofreu significativas<br />

mudanças, nunca documentadas, nem antes e nem depois. Havia lacunas<br />

nos relatórios dos historiadores que determinariam o destino dos povos<br />

na bacia do Danúbio.<br />

Eu ainda jovem aprendi que a competência do europeu em certas<br />

situações está subordinada às suas inclinações intelectuais hereditárias. E<br />

sempre comparávamos a Europa a um vulcão adormecido. Este, quando<br />

treme, irrompe, e o magma do fundo se alastra, dizimando tudo. Afinal,<br />

tudo que o homem faz depende de algum tipo de crença. Não só a evolução<br />

de nossos conhecimentos, mas a própria história dos povos faz a<br />

sociedade avançar, às vezes de maneira palpável, mas sempre profunda e<br />

misteriosamente. Esta é uma percepção que dominou meus pensamentos.<br />

Como extensão ou ampliação da ideia, no Ancoradouro registrei que<br />

a minha história não possuía métodos, mas que sabia avaliar os dados<br />

humanos. Nele, enquanto tratei dos fatos reais daquela época histórica,<br />

me firmei no pensamento do meu avô-escritor: acreditar sempre no bom<br />

senso do povo.<br />

De acordo com o seu pensamento, a reflexão histórica não é objetiva,<br />

nem subjetiva, é pessoal e participativa. Isto seria compreensível porque<br />

muitos historiadores nos campos profissionais seguem os modismos, pequenos<br />

triunfos políticos. Por outro lado, existe não só o passado registrado,<br />

como também o passado lembrado. Isto implica em novas perspectivas<br />

que geraram fontes para a recente apreciação.<br />

Um pensador húngaro, assassinado em 1944 por distribuir seus<br />

escritos revolucionários pelas ruas, Antal Szerb, assim falou: “A ciência<br />

da psicologia que toca os historiadores está na fase inicial, e lida com a<br />

parte espiritual e psíquica do conhecimento. Nesse campo, o escritor da<br />

história literária permanece sozinho. Talvez, um dia se chame de ‘história<br />

espiritual’ e quando aparecer, será bem entendido.”<br />

Esses dados foram encontrados recentemente na minha tentativa<br />

de chegar a um novo conhecimento das avaliações históricas clássicas.<br />

Surge então uma transformação na nova redação da história, que coincide<br />

com a minha avaliação sobre trabalhos históricos.<br />

Achei um apoio na pesquisa científica, que eu nem sempre comungo.<br />

O seu registro prevê basear-se nas suas autenticidades, podendo<br />

dificultar a sua avaliação para os ensaístas. Nelas existe o perigo da sua<br />

imperfeição. Por exemplo, na prática da apresentação científica, os dados<br />

22 Depoimentos A estrutura espiritual-psíquica do Ancoradouro 23

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