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Escritoras Mineiras: Poesia, Ficção e Memória - FALE - UFMG

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<strong>Poesia</strong> e ficção<br />

Malluh Praxedes<br />

A literatura é a mais lenta das artes.<br />

Cristóvão Tezza<br />

Foi escrevendo diário que dei início ao meu silencioso mundo. Trancava-me<br />

no quarto para que minhas irmãs não me pegassem escrevendo. Escondia<br />

o caderno debaixo do travesseiro quando o sono me pegava de surpresa.<br />

E nunca mais deixei de escrever.<br />

Passei minha infância em Pará de Minas, cidade pequena no oeste do<br />

Estado. Natural de uma família extremamente católica, não foram poucas as<br />

vezes em que vi minha mãe chegar em casa depois de se confessar e falar<br />

para os filhos que “não se deve nadar de biquini”, “no carnaval vocês vão<br />

fazer hora de guarda” (tenho absoluta certeza que pouquíssimas pessoas<br />

têm noção do que se trata. Era uma hora de frente “ao Santíssimo”, de<br />

joelhos, em que ficávamos lendo orações sem parar), “é preciso comungar<br />

em toda a primeira sexta-feira do mês”. Mamãe que me perdoe, não está<br />

mais aqui para se defender, mas lembro-me de certa feita discutirmos sobre<br />

a tal frase que se falava muito “devemos ter temor a Deus”. Eu, menina<br />

ainda retruquei: “Deus tem que ser amigo da gente, companheiro. Não<br />

quero ter esse sentimento ruim!”<br />

Meu primeiro poema falava de religião, claro. Escrevi aos 12 anos<br />

e está no meu primeiro diário:<br />

Com Deus<br />

aprendemos a viver.<br />

Sem Ele<br />

aprendemos a morrer.

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