1 - Centro de Documentação e Pesquisa Vergueiro
1 - Centro de Documentação e Pesquisa Vergueiro
1 - Centro de Documentação e Pesquisa Vergueiro
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
'Resistência<br />
Caros companheiros da CPT do Pará,<br />
Aqui estão algumas palavras <strong>de</strong> soli-<br />
darieda<strong>de</strong> a vocês, na luta contra a fars;<br />
que está fendo encenada na Auditoria Mi-<br />
litar <strong>de</strong> Bèléní contra os lavradores do Pa-<br />
rá na pessoa <strong>de</strong> Paulo Fontelles, .Hecilda<br />
Veiga c Luiz Maklouf:<br />
E sobreveio um Tempo sem entranhas.<br />
Anos <strong>de</strong> pedra espessa, "<br />
dias <strong>de</strong> muro e medo:<br />
a morte invadiu<br />
com seus exércitos<br />
o espaço aberto das ruas<br />
e o silêncio das armas<br />
sepultou com seus ferros<br />
c a túnica ver<strong>de</strong>-oliva<br />
os ossos dos meninos trucidados.<br />
E os coveiros do continente<br />
esten<strong>de</strong>ram seu império<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>latores,<br />
carrascos,<br />
elegantes assassinos<br />
<strong>de</strong> forda impecável<br />
e coturnos reluzentes,<br />
até o porão das fábricas,<br />
a marcha dos retirantes,<br />
os barracos das favelas,<br />
os bancos das escolas,<br />
os sonhos dos <strong>de</strong>serdados,<br />
até a última fresta<br />
on<strong>de</strong> a boca dos humanos<br />
passasse ao humano ouvido<br />
palavras <strong>de</strong> rebeldia.<br />
E a Noite pensou <strong>de</strong> si mesma<br />
que era um Tempo sem prazo,<br />
sem passado, sem futuro,<br />
um 'ítimpo que se bastava,<br />
da própria dor se nutria.<br />
Os olhos da Noite cega<br />
não viram fagulhas saltando<br />
na alma das oficinas.<br />
não viram tochas ar<strong>de</strong>ndo<br />
na marcha dos retirantes,<br />
não viram os favelados<br />
recriando o fogo vivo<br />
nas estações <strong>de</strong>predadas<br />
e os olhos dos estudantes<br />
clareando <strong>de</strong> esperança<br />
as ruas submetidas.<br />
Os olhos da Noite cega<br />
não viram o sonho do Povo<br />
reacen<strong>de</strong>ndo fogueiras<br />
no ventre da escuridão,<br />
enquanto espera romper<br />
as turvas ca<strong>de</strong>ias do Sol • >*'<br />
e AMANHECER!<br />
com úm abraço solidário<br />
fev/79 Pedro Tierra<br />
O POVO ficou do lado d» fora<br />
O ESTRANHO CASO<br />
DO FICHAMENl O PERPÉTUO<br />
A SDDH conseguiu uma vitória ao fazer<br />
<strong>de</strong>squalificar na auditoria militar o processo do<br />
RESISTÊNCIA para que seja apreciado na justi-<br />
ça comum, através da Lei <strong>de</strong> Imprensa. Contu-<br />
do, isso é apenas o início <strong>de</strong> uma luta, que a<br />
julgar pelo seu aspecto atual, vai durar ainda<br />
muito tempo.<br />
SenSo vejamos: o companheiro Humberto<br />
Rocha Cunha, um dos que <strong>de</strong>nunciou torturas<br />
esteve às voltas com o IPM 78/78 juntamente<br />
com os outros companheiros do jornal. Foi fi-<br />
chado na Polícia Fe<strong>de</strong>ral antes mesmo <strong>de</strong> ser<br />
indiciado, como os <strong>de</strong>mais também. Quando a<br />
promotora ofereceu a <strong>de</strong>núncia, Humberto foi<br />
excluído do processo. Apesar disso a Polícia Fe-<br />
<strong>de</strong>ral se nega a cangelar seu fichamento, pois a<br />
que o juiz forneceu não presta, uma vez que<br />
não consta o número do IPM.<br />
O juiz, porém, não quer dar nova certidão<br />
e fica <strong>de</strong>sse modo o Humberto con<strong>de</strong>nado ao<br />
fichamento perpétuo na Polícia Fe<strong>de</strong>ral e no<br />
DOPS, paracendo coisa combinada entre o juiz<br />
e a polfcia. O nosso companheiro vai entrar no<br />
Superior Tribunal Militar com Habeas Corpus.<br />
Picoresco èi Macabro<br />
No momento em que Paulo Fontel-<br />
les reafirmava perante o Conselho <strong>de</strong> Sen-<br />
tenças as <strong>de</strong>núncias das torturas que havia<br />
sofrido no PIC, o juiz Mário Mendonça<br />
interrompeu a narrativa, e, num tom em<br />
que se misturava enfado e irritação, <strong>de</strong>cla-<br />
rou:<br />
- Meu rapaz, eu conheço o pau-<br />
<strong>de</strong>-arara. . .<br />
Na parte <strong>de</strong> fora, on<strong>de</strong> se acumulavam<br />
mais <strong>de</strong> cem pessoas, a presença <strong>de</strong> agentes da<br />
polícia era notada por todos. Puxando con-<br />
versa, batendo fotografias, ou apenas observan-<br />
do, todos — ou quase todos — foram <strong>de</strong>scober-<br />
tos. Este (foto), com uma "olympus trip", fur-<br />
tivamente fotografava pessoas que não haviam<br />
logrado entrar na auditoria militar. Pouco <strong>de</strong>-<br />
pois <strong>de</strong> ser flagrado e fotografado interpelou<br />
nosso fotógrafo com insinuações e ameaçadas.<br />
Caso Resistência vai<br />
parar na Justiça Comum<br />
Com o fim <strong>de</strong> complementar seu<br />
<strong>de</strong>poimento ao RESISTÊNCIA/5 Hum-<br />
berto Cunha nos enviou o seguinte docu-<br />
mento, que <strong>de</strong>ve servir a operários e estu-<br />
dantes mineiros, além do Conselho Regio-<br />
nal <strong>de</strong> Medicina <strong>de</strong> Minas Gerais. A <strong>de</strong>cla-<br />
ração veio assinada com firma reconhe-<br />
cida em cartório.<br />
DECLARO, para todos os fins e<br />
efeitos, que o médico que acompanhou<br />
meu estado físico no período <strong>de</strong> torturas<br />
no DOI-CODI <strong>de</strong> Belo Horizonte no final<br />
do ano <strong>de</strong> 1971 e princípio <strong>de</strong> 1972, inci-<br />
tando os torturadores a continuarem a<br />
tortura sob a alegação <strong>de</strong> que eu estaria<br />
apenas fingindo <strong>de</strong>smaio é o cidadão que<br />
abaixo se discrimina:<br />
Nome - JEAN-PAUL NICOLÀ SE-<br />
GURGER<br />
Nacionalida<strong>de</strong> - LUXEMBUR-<br />
GUÊS<br />
Ocupação atual:<br />
1) Médico da AASA (Artefatos <strong>de</strong><br />
Aço S/A), sita à Av. Amazonas - Conta-<br />
gem-MG.<br />
2) Professor da UFMG faculda<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> Medicina.<br />
0 referido é verda<strong>de</strong>, e posso teste-<br />
munhar do fato em Juízo. A presente De-<br />
claração complementa meu relato contido<br />
no jornal "RESISTÊNCIA" No. 5, órgão<br />
da Socieda<strong>de</strong> Paraense <strong>de</strong> Defesa dos Di-<br />
reitos Humanos.<br />
Por "or<strong>de</strong>m superior" não foram permi-<br />
tidas fotografias tanto no interior da sala <strong>de</strong><br />
audiências — a partir <strong>de</strong> segunda audiência —<br />
como do lado <strong>de</strong> fora. Este soldado tentava<br />
cumprir as <strong>de</strong>terminações superiores quando foi<br />
enquadrado pela objetiva <strong>de</strong> nosso fotógrafo,<br />
que para não per<strong>de</strong>r o filme teve que <strong>de</strong>ixar a<br />
máquina nas mãos <strong>de</strong> pessoas que se encontra-<br />
vam nas proximida<strong>de</strong>s, recuperando a <strong>de</strong>pois.<br />
PÁGINA 25