1 - Centro de Documentação e Pesquisa Vergueiro
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KE^rSTèNC/A v-'9<br />
Em <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> Amazônia<br />
De Conceição do Araguaia, o lavrador José Basílio <strong>de</strong> Siqueira, conclama<br />
os trabalhadores rurais a se posicionarem na <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> nossas matas<br />
Como <strong>de</strong>ve o trabalhador<br />
do campo participar da campa-<br />
nha para a preservação do que é<br />
<strong>de</strong> todos?<br />
O que <strong>de</strong>vemos fazer?<br />
Antes <strong>de</strong> tudo, <strong>de</strong>veremos<br />
nós, os trabalhadores do campo,<br />
fazer um exame <strong>de</strong> consciência,<br />
procurando <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> nós mes-<br />
mos, saber se não temos respon-<br />
sabilida<strong>de</strong>s para com nossa Pá-<br />
tria, nossas famílias e com a so-<br />
cieda<strong>de</strong>, para, a partir daf, ver-<br />
mos o que po<strong>de</strong>remos fazer e co-<br />
mo fazer.<br />
Chegada à conclusão <strong>de</strong> que<br />
não po<strong>de</strong>remos permanecer<br />
alheios a urfi assunto <strong>de</strong> tão sérias<br />
conseqüências, como a atual, in-<br />
dagaremos, o que é <strong>de</strong> todos?<br />
Eis a resposta:<br />
De todos é aquilo que te-<br />
mos direito, mas não nos perten-<br />
ce como proprieda<strong>de</strong> individual,<br />
particular e exclusiva. Exemplo:<br />
o mundo é <strong>de</strong> todos nós, mas<br />
nenhum <strong>de</strong> nós tem direito exclu-<br />
sivo sobre ele. Para ficar mais cla-<br />
ro: o Brasil é a nossa Pátria, mas<br />
como brasileiros a nenhum <strong>de</strong><br />
nós é I feito e nem tampouco per-<br />
mitido que disponhamos <strong>de</strong>le co-<br />
mo nossa proprieda<strong>de</strong> particular.<br />
E <strong>de</strong> todos.<br />
Outro exemplo: o Sindicato<br />
dos Trabalhadores Rurais <strong>de</strong><br />
Conceição do Araguaia, como ór-<br />
gão <strong>de</strong> classe, é o meu sindicato,<br />
pois sou trabalhador rural e a ele<br />
sou filiado. Mas eu ou qualquer<br />
outro associado, ou mesmo um<br />
grupo <strong>de</strong> associados, não po<strong>de</strong>-<br />
mos dispor <strong>de</strong>le como proprieda-<br />
<strong>de</strong> particular ou individual<br />
Mais um outro exemplo: as<br />
terras públicas <strong>de</strong>volutas, os cam-<br />
pos, as matas, os rios, os lagos.<br />
estradas, as praças das cida<strong>de</strong>s, as<br />
ruas, os prédios, públicos, todos<br />
são nossos, mas ninguém tem o<br />
direito exclusivo sobre isso, pois<br />
foram criados e constituídos para<br />
o bem <strong>de</strong> todos. Seja <strong>de</strong> que clas-<br />
se for. Rico ou pobre, preto ou<br />
branco, homem ou mulher, jo-<br />
vem ou criança — todos somos<br />
sócios <strong>de</strong>ste patrimônio, que é<br />
chamado <strong>de</strong> bem-comum, por<br />
pertencer a toda comunida<strong>de</strong>.<br />
Aqui é que está a razão.<strong>de</strong>s-<br />
se escrito. E que somos chama-<br />
dos por uma parcela bastante nu-<br />
merosa, esclarecida e sobretudo<br />
consciente <strong>de</strong> suas responsabili-<br />
da<strong>de</strong>s, como participantes e só-<br />
cios neste bem comum, a <strong>de</strong>fen-<br />
<strong>de</strong>rmos esse nosso patrimônio, a<br />
terra, as matas, enfim, todo o<br />
meio-ambiente. Principalmente<br />
as matas, que estão sendo <strong>de</strong>s-<br />
truídas indiscriminadamente —<br />
<strong>de</strong>struição essa que por sua práti-<br />
ca, métodos e processos fere os<br />
mais oomezinhos princípios <strong>de</strong><br />
conservação da natureza e, além<br />
a acima <strong>de</strong> tudo, ameaça a sobe-<br />
rania <strong>de</strong> nossa pátria. Na condi-<br />
ção <strong>de</strong> sócios, como foi dito aci-<br />
ma, não po<strong>de</strong>mos e nem tampou<br />
oo elevemos permitir que seja <strong>de</strong>s-<br />
truído esse patrimônio, que por<br />
natureza e por direito nos perten-<br />
ce, seja qual for o pretexto ou<br />
justificativa.<br />
Para isso temos que utilizar<br />
todos os meios <strong>de</strong> luta possíveis,<br />
a fim <strong>de</strong> evitarmos que seja con-<br />
sumado esse crime contra o Bra<br />
sil e contra nós brasileiros, temos<br />
que usar ferramentas a<strong>de</strong>quadas,<br />
para levar a batalha a bom termo.<br />
Como a luta é <strong>de</strong> todos e não<br />
somente <strong>de</strong> uns poucos brasilei-<br />
ros, nosso caso, como trabalha-<br />
dor rural, <strong>de</strong>vemos levar para o<br />
sindicato a discussão do assunto<br />
e exigir da diretoria que tome po-<br />
sição e providências a respeito.<br />
Há uma perspectiva alvissa-<br />
reira, segundo foi publicado pelo<br />
Boletim da Comissão Pastoral da<br />
Terra <strong>de</strong> Goiás, no. 19, <strong>de</strong> no-<br />
vembro/<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 78. A Con-<br />
fe<strong>de</strong>ração Nacional dos Trabalha-<br />
dores na Agricultura — CONTAG<br />
— está se preparando para a reali-<br />
zação do 3n. Congresso Nacional<br />
aos Trabalhadores Rurais Brasi-<br />
leiros, a ser marcado para os dias<br />
21 a 25 <strong>de</strong> maio do corrente ano,<br />
oportunida<strong>de</strong> em que todas as fe-<br />
<strong>de</strong>rações e sindicatos que as inte-<br />
gram terão que participar <strong>de</strong>ste<br />
evento. Reunindo a partir das ba-<br />
ses das Delegacias Sindicais, to-<br />
dos os trabalhadores, associados<br />
ou não, levando para os mesmos<br />
as teses, os assuntos que mais <strong>de</strong><br />
perto interessarão os trabalhado<br />
res, nos quais <strong>de</strong>vemos propor, se<br />
não constar do temário, a inclu-<br />
são do assunto, a <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> nos-<br />
sas matas e <strong>de</strong> nossas terras. £<br />
assunto prioritário, que interessa<br />
à maioria dos brasileiros e princi-<br />
palmente aos trabalhadores ru-<br />
rais, que precisam <strong>de</strong> terra para<br />
cuidar <strong>de</strong>la e <strong>de</strong>la tirar o seu<br />
meio <strong>de</strong> subsistência, como tam-<br />
bém para 6 consumo interno do<br />
País o que significa lutar pela<br />
concretização <strong>de</strong> seu objetivo<br />
fundamental, a Reforma Agrária,<br />
há muito falada, sonhada e sobre-<br />
tudo <strong>de</strong>sejada, mas até agora não<br />
realizada.<br />
Eis as tarefas urgentes e<br />
imediatas do sindicato: conscien-<br />
tizar os trabalhadores para que<br />
eles sejam os principais protago-<br />
nistas na luta para a conquista<br />
daquilo que mais <strong>de</strong> perto lhes<br />
interessa.