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Educação como Prática da Liberdade - Paulo Freire - Gestão Escolar

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contemplar. Não no sentido destorcido que lhe <strong>da</strong>mos, de<br />

oposição à reali<strong>da</strong>de. De abstração. Nossa educação não é<br />

teórica porque lhe falta esse gosto <strong>da</strong> comprovação, <strong>da</strong><br />

invenção, <strong>da</strong> pesquisa. Ela é verbosa. Palavresca. É<br />

“sonora”. É “assistencializadora”. Não comunica. Faz<br />

comunicados, coisas diferentes.<br />

Entre nós, repita-se, a educação teria de ser, acima<br />

de tudo, uma tentativa constante de mu<strong>da</strong>nça de atitude.<br />

De criação de disposições democráticas através <strong>da</strong> qual se<br />

substituíssem no brasileiro, antigos e culturológicos<br />

hábitos de passivi<strong>da</strong>de, por novos hábitos de participação<br />

e ingerência, de acordo com o novo clima <strong>da</strong> fase de<br />

transição. Aspecto este já afirmado por nós várias vezes e<br />

reafirmado com a mesma força com que muita coisa<br />

considera<strong>da</strong> óbvia precisa, neste País, ser realça<strong>da</strong>.<br />

Aspecto importante, de nosso agir educativo, pois, se<br />

faltaram condições no nosso passado histórico-cultural,<br />

que nos tivessem <strong>da</strong>do, <strong>como</strong> a outros povos, uma<br />

constante de hábitos soli<strong>da</strong>ristas, política e socialmente,<br />

que nos fizessem menos inautênticos dentro <strong>da</strong> forma<br />

democrática de governo, restava-nos, então, aproveitando<br />

as condições novas do clima atual do processo, favoráveis<br />

à democratização, apelar para a educação, <strong>como</strong> ação<br />

social, através <strong>da</strong> qual se incorporassem ao brasileiro<br />

estes hábitos.<br />

O nosso grande desafio, por isso mesmo, nas novas<br />

condições <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> brasileira, não era só o alarmante<br />

índice de analfabetismo e a sua superação. Não seria a<br />

exclusiva superação do analfabetismo que levaria a<br />

rebelião popular à inserção. A alfabetização puramente<br />

mecânica. O problema para nós prosseguia e transcendia<br />

a superação do analfabetismo e se situava na necessi<strong>da</strong>de<br />

de superarmos também a nossa inexperiência<br />

democrática. Ou tentarmos simultaneamente as duas<br />

coisas.<br />

Não seria, porém, com essa educação desvincula<strong>da</strong><br />

<strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, centra<strong>da</strong> na palavra, 61 em que é altamente rica,<br />

mas na palavra “milagrosamente” esvazia<strong>da</strong> <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de<br />

61 Neste sentido, ver as excelentes observações de Fromm sobre<br />

alienação <strong>da</strong> linguagem, em Marx y su Concepto del Hombre. “...<br />

Hay que tener en cuenta siempre — diz ele — el peligro de la palabra<br />

habla<strong>da</strong>, que amenaza con sustituir a la experiencia vivi<strong>da</strong>”, pág. 57.<br />

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