Educação como Prática da Liberdade - Paulo Freire - Gestão Escolar
Educação como Prática da Liberdade - Paulo Freire - Gestão Escolar
Educação como Prática da Liberdade - Paulo Freire - Gestão Escolar
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
é uma república”, afirma Vieira, citado por Oliveira<br />
Viana. 37<br />
Essas condições econômicas e as linhas de nossa<br />
colonização não poderiam, na ver<strong>da</strong>de, permitir o<br />
surgimento de centros urbanos com uma classe média,<br />
fun<strong>da</strong><strong>da</strong> sobre lastro econômico razoável. Centros<br />
urbanos que fossem criados pelo povo e por ele<br />
governados, através de cuja experiência de governo, fosse<br />
ele incorporando aquela sabedoria democrática a que<br />
chega o povo quando faz sua socie<strong>da</strong>de com suas próprias<br />
mãos. 38 Ao invés de centros urbanos assim feitos de<br />
baixo para cima à base <strong>da</strong> soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de política a<br />
associar os grupos humanos em comuni<strong>da</strong>des, o que nos<br />
teria aju<strong>da</strong>do no aprendizado de nossa sabedoria<br />
democrática, o que a História de nossas instituições<br />
políticas revela, ao contrário, é o surgimento de núcleos<br />
urbanos nascidos de cima para baixo. Criados<br />
compulsoriamente, com suas populações arrebanha<strong>da</strong>s.<br />
Só uma vez ou outra nascidos com a força e vontade do<br />
povo. De estranhar seria, na ver<strong>da</strong>de, que esses centros<br />
urbanos tivessem nascido sob impulso popular. Impulso<br />
do povo, a quem vinham faltando condições necessárias<br />
para tê-lo.<br />
Como a possibili<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> urbana,<br />
democraticamente urbana, com o poderosismo<br />
econômico <strong>da</strong> grande proprie<strong>da</strong>de? Com a sua<br />
autarquização? A grande proprie<strong>da</strong>de absorvente e<br />
asfixiante fazia girar tudo em torno de si.<br />
Por outro lado, a enormi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s terras, a rala<br />
população de Portugal, dificultando tentativas de<br />
povoamento, o espírito comercial <strong>da</strong> colonização, de que<br />
decorreu imediatamente a insulação <strong>da</strong> nova terra,<br />
cerra<strong>da</strong> em si mesma, 39 sem relações a não ser com<br />
37 Oliveira Viana — obra cita<strong>da</strong>, I Vol., pág. 151.<br />
38 “Foi então uma socie<strong>da</strong>de quase sem outras formas ou expressões<br />
de status de homem ou família senão as extremas: senhor e escravo.<br />
O desenvolvimento de “Classes médias” ou intermediárias de<br />
“pequena-burguesia” de “pequena” e de “média indústria”, de<br />
“pequena e média agricultura” é tão recente, entre nós, sob formas<br />
notáveis, sequer, consideráveis, que durante todo aquele período que<br />
vai do século XVI ao XIX, seu estudo pode ser quase desprezado; e<br />
quase ignora<strong>da</strong> sua presença na História Social <strong>da</strong> Família Brasileira”<br />
— Gilberto Freyre — Sobrados e Mocambos — volume I — pág. 52.<br />
39 As restrições às relações <strong>da</strong> Colônia não se cingiam apenas às que<br />
poderia ter tido com o exterior — o que ameaçaria os interesses de<br />
72