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Educação como Prática da Liberdade - Paulo Freire - Gestão Escolar

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Não se fale, por exemplo, <strong>como</strong> tentativa de<br />

negação de nossa inexperiência democrática, <strong>da</strong>s<br />

coloniais Câmaras municipais, dos seus Senados, dos<br />

seus vereadores. Câmaras municipais e Senados em que<br />

tivesse o povo exercitado o governo de seus municípios.<br />

Não se fale dessas Câmaras e desses Senados<br />

precisamente porque, mais uma vez, a sua existência e o<br />

seu funcionamento, o que revelam é, antes, a ausência de<br />

participação do homem comum na sua vi<strong>da</strong>, no seu<br />

funcionamento.<br />

Com a exclusão do homem comum do processo<br />

eletivo — não votava nem era votado — proibi<strong>da</strong> a ele<br />

qualquer ingerência, enquanto homem comum, nos<br />

destinos de sua comuni<strong>da</strong>de, havia então de emergir uma<br />

classe de homens privilegiados que, estes sim,<br />

governassem a comuni<strong>da</strong>de municipal. Esta era a classe<br />

dos chamados “homens bons”, com “seus nomes insertos<br />

nos livros <strong>da</strong> nobreza, existentes nas Câmaras”.<br />

Eram os representantes <strong>da</strong> nobreza dos engenhos,<br />

dos poderosos <strong>da</strong> terra, dos “nobres de linhagem aqui<br />

chegados”. Como era a classe dos novos ricos <strong>da</strong> época<br />

— enriquecidos no comércio e promovidos à nobreza, já<br />

pelos seus serviços prestados à ci<strong>da</strong>de, já pela sua<br />

conduta.<br />

Ao lado, posto à margem, sem direitos cívicos,<br />

estava o homem comum, irremediavelmente afastado de<br />

qualquer experiência de autogoverno. De dialogação.<br />

Constantemente submetido. “Protegido”. Capaz, na<br />

ver<strong>da</strong>de, de algazarra, que é a “voz” dos que se tornam<br />

“mudos” na constituição e crescimento de suas<br />

comuni<strong>da</strong>des, quando ensaiam qualquer reação. Nunca,<br />

porém, capaz de voz autêntica. De opção. Voz que o povo<br />

inexperimentado dela, vai ganhando quando novas<br />

condições faseológicas vão surgindo e propiciando a ele<br />

os primeiros ensaios de dialogação. É o que vinha<br />

acontecendo a nós com a “rachadura” <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de<br />

brasileira, na fase anterior ao Golpe Militar. Estávamos<br />

assim “conformados” em um tipo de vi<strong>da</strong> rigi<strong>da</strong>mente<br />

autoritário, nutrindo-nos de experiências verticalmente<br />

antidemocráticas, em que se formavam e robusteciam<br />

sempre mais as nossas disposições mentais também e<br />

forçosamente antidemocráticas, quando circunstâncias<br />

especiais alteram o compasso de nossa vi<strong>da</strong> colonial.<br />

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