Educação como Prática da Liberdade - Paulo Freire - Gestão Escolar
Educação como Prática da Liberdade - Paulo Freire - Gestão Escolar
Educação como Prática da Liberdade - Paulo Freire - Gestão Escolar
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Não se fale, por exemplo, <strong>como</strong> tentativa de<br />
negação de nossa inexperiência democrática, <strong>da</strong>s<br />
coloniais Câmaras municipais, dos seus Senados, dos<br />
seus vereadores. Câmaras municipais e Senados em que<br />
tivesse o povo exercitado o governo de seus municípios.<br />
Não se fale dessas Câmaras e desses Senados<br />
precisamente porque, mais uma vez, a sua existência e o<br />
seu funcionamento, o que revelam é, antes, a ausência de<br />
participação do homem comum na sua vi<strong>da</strong>, no seu<br />
funcionamento.<br />
Com a exclusão do homem comum do processo<br />
eletivo — não votava nem era votado — proibi<strong>da</strong> a ele<br />
qualquer ingerência, enquanto homem comum, nos<br />
destinos de sua comuni<strong>da</strong>de, havia então de emergir uma<br />
classe de homens privilegiados que, estes sim,<br />
governassem a comuni<strong>da</strong>de municipal. Esta era a classe<br />
dos chamados “homens bons”, com “seus nomes insertos<br />
nos livros <strong>da</strong> nobreza, existentes nas Câmaras”.<br />
Eram os representantes <strong>da</strong> nobreza dos engenhos,<br />
dos poderosos <strong>da</strong> terra, dos “nobres de linhagem aqui<br />
chegados”. Como era a classe dos novos ricos <strong>da</strong> época<br />
— enriquecidos no comércio e promovidos à nobreza, já<br />
pelos seus serviços prestados à ci<strong>da</strong>de, já pela sua<br />
conduta.<br />
Ao lado, posto à margem, sem direitos cívicos,<br />
estava o homem comum, irremediavelmente afastado de<br />
qualquer experiência de autogoverno. De dialogação.<br />
Constantemente submetido. “Protegido”. Capaz, na<br />
ver<strong>da</strong>de, de algazarra, que é a “voz” dos que se tornam<br />
“mudos” na constituição e crescimento de suas<br />
comuni<strong>da</strong>des, quando ensaiam qualquer reação. Nunca,<br />
porém, capaz de voz autêntica. De opção. Voz que o povo<br />
inexperimentado dela, vai ganhando quando novas<br />
condições faseológicas vão surgindo e propiciando a ele<br />
os primeiros ensaios de dialogação. É o que vinha<br />
acontecendo a nós com a “rachadura” <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de<br />
brasileira, na fase anterior ao Golpe Militar. Estávamos<br />
assim “conformados” em um tipo de vi<strong>da</strong> rigi<strong>da</strong>mente<br />
autoritário, nutrindo-nos de experiências verticalmente<br />
antidemocráticas, em que se formavam e robusteciam<br />
sempre mais as nossas disposições mentais também e<br />
forçosamente antidemocráticas, quando circunstâncias<br />
especiais alteram o compasso de nossa vi<strong>da</strong> colonial.<br />
76