Educação como Prática da Liberdade - Paulo Freire - Gestão Escolar
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ain<strong>da</strong> a participação do homem comum na sua<br />
comuni<strong>da</strong>de. A grande força <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des estava na<br />
burguesia que se fazia opulenta enriquecendo no<br />
comércio e substituindo o todo-poderosismo do campo.<br />
Estaria também e depois, nas idéias dos bacharéis, filhos<br />
dos campos, mas homens fortemente citadinos. Doutores<br />
formados na Europa e cujas idéias eram discuti<strong>da</strong>s em<br />
nossas amplamente “analfabetiza<strong>da</strong>s” províncias, <strong>como</strong><br />
se fossem centros europeus.<br />
As alterações que se processaram, realmente<br />
grandes, não tinham nem podiam ter, ain<strong>da</strong> com a<br />
preservação do trabalho escravo, impedindo novos surtos<br />
de desenvolvimento, que o trabalho livre provocaria,<br />
força de promoção do “povo”, <strong>da</strong>quele estado de<br />
assistencialização, a que fora sempre submetido, para o<br />
de, mesmo incipiente, participação.<br />
Só a partir <strong>da</strong> “rachadura” <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de brasileira e<br />
de sua entra<strong>da</strong> na recente fase de transição, mais<br />
fortemente neste século, é que se pode falar de um ímpeto<br />
popular. De uma voz do povo, com a sua emersão.<br />
Observou-se ain<strong>da</strong>, <strong>como</strong> conseqüência, ou <strong>como</strong><br />
uma <strong>da</strong>s dimensões deste surto de renovação e de<br />
alterações que o País sofreu, com a chega<strong>da</strong> <strong>da</strong> Corte, e<br />
em contradição com longínquas e tênues condições de<br />
democratização que, porventura, poderiam ter surgido<br />
com a vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des, a europeização ou a<br />
reeuropeização do País, a que se aliou todo um conjunto<br />
de procedimentos antidemocráticos, a reforçar a nossa<br />
inexperiência democrática.<br />
“... é que — afirma Gilberto Freyre — paralelo ao<br />
processo de europeização ou reeuropeização do Brasil<br />
que caracterizou, nas principais áreas do País, a primeira<br />
metade do século XIX, aguçou-se, entre nós, o processo<br />
já antigo, de opressão não só de escravos e servos por<br />
senhores, de africanos e indígenas por portadores<br />
exclusivistas <strong>da</strong> cultura européia, agora encarna<strong>da</strong><br />
principalmente nos moradores principais <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des.” E<br />
mais adiante, <strong>da</strong>ndo provas de até aonde chegava esse<br />
todo-poderosismo: “O direito de galopar ou esquipar ou<br />
an<strong>da</strong>r a trote pelas ruas <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de repita-se que era<br />
exclusivo dos militares e milicianos. O de atravessá-la,<br />
montado senhorialmente a cavalo, era privilégio do<br />
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