Educação como Prática da Liberdade - Paulo Freire - Gestão Escolar
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Há outros também, <strong>como</strong> um analfabeto de Brasília,<br />
para emoção de todos os presentes, inclusive do ex-<br />
Ministro <strong>da</strong> <strong>Educação</strong>, <strong>Paulo</strong> de Tarso, cujo interesse pela<br />
educação do povo o levava à noite, no término do seu<br />
expediente, a assistir aos debates dos Círculos de Cultura,<br />
que disse: tu já lê, que seria em bom português: tu já lês.<br />
E isto na primeira noite em que iniciava a sua<br />
alfabetização...<br />
Terminados os exercícios orais, em que não houve<br />
apenas conhecimento, mas reconhecimento, sem o que<br />
não há ver<strong>da</strong>deira aprendizagem, o homem passa, na<br />
mesma primeira noite, a escrever.<br />
No dia seguinte, traz de casa, <strong>como</strong> tarefa, tantos<br />
vocábulos quantos tenha podido criar com combinações<br />
de fonemas conhecidos. Não importa que traga vocábulos<br />
que não sejam termos. O que importa, no dia em que põe<br />
o pé neste terreno novo, é a descoberta do mecanismo <strong>da</strong>s<br />
combinações fonêmicas.<br />
O teste dos vocábulos criados deve ser feito pelo<br />
grupo, com a aju<strong>da</strong> do educador, e não por este apenas,<br />
com a assistência do grupo.<br />
Na experiência realiza<strong>da</strong> no Estado do Rio Grande<br />
do Norte, chamavam de “palavra de pensamento”, as que<br />
eram termos e de “palavras mortas”, as que não o eram.<br />
Não foram raros os exemplos de homens que, após<br />
a apropriação do mecanismo fonêmico, com a “ficha <strong>da</strong><br />
descoberta”, escreviam palavras com fonemas complexos<br />
— tra, nha, etc. — que ain<strong>da</strong> não lhe haviam sido<br />
apresentados. Num dos Círculos de Cultura <strong>da</strong><br />
experiência de Angicos — Rio Grande do Norte — que<br />
fora coordenado por uma de nossas filhas, Ma<strong>da</strong>lena, no<br />
quinto dia de debate, em que apenas se fixavam fonemas<br />
simples, um dos participantes foi ao quadro negro para<br />
escrever, disse ele, uma “palavra de pensamento” 20 E<br />
redigiu: “o povo vai resouver (corrutela de resolver) os<br />
20 Aspecto interessante a observar é o de que, geralmente, os<br />
alfabetizandos escreviam com segurança e legibili<strong>da</strong>de. Tanto quanto<br />
possível superando a indecisão natural dos que se iniciam. Para a<br />
professora Elza <strong>Freire</strong>, possivelmente, isto se deva ao fato de que,<br />
altamente motivados, tendo apreendido criticamente o mecanismo de<br />
combinações silábicas de sua língua e tendo se “descoberto mais<br />
Homens a partir <strong>da</strong> discussão do conceito antropológico de cultura<br />
ganhavam e iam ganhando ca<strong>da</strong> vez mais segurança emocional, no<br />
seu aprendizado, que se refletia na sua ativi<strong>da</strong>de motora”.<br />
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