Educação como Prática da Liberdade - Paulo Freire - Gestão Escolar
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Ao lado disto, e possivelmente, em parte por causa<br />
desta tendência, marchou a nossa colonização no sentido<br />
<strong>da</strong> grande proprie<strong>da</strong>de. Da fazen<strong>da</strong>. Do engenho. Fazen<strong>da</strong><br />
e engenho, terras grandes, imensas terras, doa<strong>da</strong>s às<br />
léguas a uma pessoa só, que se apossava delas e dos<br />
homens que vinham povoá-las e trabalhá-las.<br />
Nas grandes proprie<strong>da</strong>des separa<strong>da</strong>s umas <strong>da</strong>s<br />
outras, pelas próprias disposições legais, por léguas, não<br />
havia mesmo outra maneira de vi<strong>da</strong>, que não fosse a de se<br />
fazerem os “moradores” desses domínios, “protegidos”<br />
dos senhores. Tinham de se fazerem protegidos por eles,<br />
senhores todo-poderosos, <strong>da</strong>s incursões pre<strong>da</strong>tórias dos<br />
nativos. Da violência arrogante dos trópicos. Das<br />
arremeti<strong>da</strong>s até de outros senhores. Aí se encontram,<br />
realmente, as primeiras condições culturológicas em que<br />
nasceu e se desenvolveu no homem brasileiro o gosto, a<br />
um tempo de mandonismo e de dependência, de<br />
“protecionismo”, que sempre floresce entre nós em plena<br />
fase de transição.<br />
Naquelas condições referi<strong>da</strong>s se encontram as raízes<br />
<strong>da</strong>s nossas tão comuns soluções paternalistas. Lá,<br />
também, o “mutismo” brasileiro. As socie<strong>da</strong>des a que se<br />
nega o diálogo — comunicação — e, em seu lugar, se<br />
lhes oferecem “comunicados”, resultantes de compulsão<br />
ou “doação”, se fazem preponderantemente “mu<strong>da</strong>s”. O<br />
mutismo não é propriamente inexistência de resposta. É<br />
resposta a que falta teor marca<strong>da</strong>mente crítico. 33<br />
Não há realmente, <strong>como</strong> se possa pensar em<br />
dialogação com a estrutura do grande domínio, com o<br />
tipo de economia que o caracterizava, marca<strong>da</strong>mente<br />
autárquico. A dialogação implica numa mentali<strong>da</strong>de que<br />
não floresce em áreas fecha<strong>da</strong>s, autarquiza<strong>da</strong>s. Estas, pelo<br />
contrário, constituem um clima ideal para o antidiálogo.<br />
Para a verticali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s imposições. Para a ênfase e<br />
robustez dos senhores. Para o mandonismo. Para a lei<br />
33 “Todo aparente espírito eleitoral que a massa revelava — as suas<br />
agitações — os seus tumultos, as suas violências e desrespeitos à<br />
autori<strong>da</strong>de — não partiam propriamente desta massa, não eram<br />
iniciativa dela — e, sim, <strong>da</strong> nobreza, sempre apaixona<strong>da</strong>, dos<br />
senhores rurais, que incitavam e as induziam à luta.” Oliveira Viana<br />
— Instituições Políticas Brasileiras — 2ª edição — pág. 186 — I<br />
volume.<br />
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