Educação como Prática da Liberdade - Paulo Freire - Gestão Escolar
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que deveria representar, pobre de ativi<strong>da</strong>des com que o<br />
educando ganhe a experiência do fazer, que<br />
desenvolveríamos no brasileiro a critici<strong>da</strong>de de sua<br />
consciência, indispensável à nossa democratização.<br />
Na<strong>da</strong> ou quase na<strong>da</strong> existe em nossa educação, que<br />
desenvolva no nosso estu<strong>da</strong>nte o gosto <strong>da</strong> pesquisa, <strong>da</strong><br />
constatação, <strong>da</strong> revisão dos “achados” — o que implicaria<br />
no desenvolvimento <strong>da</strong> consciência transitivo-crítica.<br />
Pelo contrário, a sua perigosa superposição à reali<strong>da</strong>de<br />
intensifica no nosso estu<strong>da</strong>nte a sua consciência ingênua.<br />
A própria posição <strong>da</strong> nossa escola, de modo geral<br />
acalenta<strong>da</strong> ela mesma pela sonori<strong>da</strong>de <strong>da</strong> palavra, pela<br />
memorização dos trechos, pela desvinculação <strong>da</strong><br />
reali<strong>da</strong>de, pela tendência a reduzir os meios de<br />
aprendizagem às formas meramente nocionais, já é uma<br />
posição caracteristicamente ingênua. 62<br />
Ca<strong>da</strong> vez mais nos convencemos, aliás, de se<br />
encontrarem na nossa inexperiência democrática, as<br />
raízes deste nosso gosto <strong>da</strong> palavra ôca. Do verbo. Da<br />
ênfase nos discursos. Do torneio <strong>da</strong> frase. É que to<strong>da</strong> esta<br />
manifestação oratória, quase sempre também sem<br />
profundi<strong>da</strong>de, revela, antes de tudo, uma atitude mental.<br />
Revela ausência de permeabili<strong>da</strong>de característica <strong>da</strong><br />
consciência crítica. E é precisamente a critici<strong>da</strong>de a nota<br />
fun<strong>da</strong>mental <strong>da</strong> mentali<strong>da</strong>de democrática.<br />
Quanto mais crítico um grupo humano, tanto mais<br />
democrático e permeável, em regra. Tanto mais<br />
democrático, quanto mais ligado às condições de sua<br />
circunstância. Tanto menos experiências democráticas<br />
62 Duas gerações de educadores brasileiros, a cujo esforço se<br />
vem juntando o de sociólogos preocupados com a educação, vêm<br />
insistindo, em ensaios e artigos publicados em revistas especializa<strong>da</strong>s<br />
(entre elas a Revista Brasileira de Estudos Pe<strong>da</strong>gógicos) neste<br />
aspecto.<br />
E vêm insistindo, com i<strong>da</strong>s e vin<strong>da</strong>s, na objetivação de suas<br />
idéias, dentro <strong>da</strong> perspectiva de uma educação nova, hoje ca<strong>da</strong> vez<br />
mais volta<strong>da</strong> para o desenvolvimento. Anísio Teixeira, Fernando de<br />
Azevedo, Lourenço Filho, Carneiro Leão, e outros, entre os mais<br />
velhos. Roberto Moreira, Artur Rios, Lauro de Oliveira Lima, <strong>Paulo</strong><br />
de Almei<strong>da</strong> Campos, Florestan Fernandes (sobretudo sociólogo),<br />
Guerreiro Ramos (sociólogo) e outros, entre os mais jovens.<br />
Sem se falar nas incursões neste tema, muitas delas lúci<strong>da</strong>s e<br />
importantes, que vêm sendo feitas por economistas brasileiros. Em<br />
que pese todo esse esforço, a tônica ain<strong>da</strong> vem sendo a referi<strong>da</strong> no<br />
texto, apesar <strong>da</strong>s exceções isola<strong>da</strong>s.<br />
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