Educação como Prática da Liberdade - Paulo Freire - Gestão Escolar
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Uma educação que possibilitasse ao homem a<br />
discussão corajosa de sua problemática. De sua inserção<br />
nesta problemática. Que o advertisse dos perigos de seu<br />
tempo, para que, consciente deles, ganhasse a força e a<br />
coragem de lutar, ao invés de ser levado e arrastado à<br />
perdição de seu próprio “eu”, submetido às prescrições<br />
alheias. <strong>Educação</strong> que o colocasse em diálogo constante<br />
com o outro. Que o predispusesse a constantes revisões.<br />
À análise crítica de seus “achados”. A uma certa rebeldia,<br />
no sentido mais humano <strong>da</strong> expressão. Que o<br />
identificasse com métodos e processos científicos.<br />
Não podíamos compreender, numa socie<strong>da</strong>de<br />
dinamicamente em fase de transição, uma educação que<br />
levasse o homem a posições quietistas ao invés <strong>da</strong>quela<br />
que o levasse à procura <strong>da</strong> ver<strong>da</strong>de em comum, “ouvindo,<br />
perguntando, investigando”. Só podíamos compreender<br />
uma educação que fizesse do homem um ser ca<strong>da</strong> vez<br />
mais consciente de sua transitivi<strong>da</strong>de, que deve ser usa<strong>da</strong><br />
tanto quanto possível criticamente, ou com acento ca<strong>da</strong><br />
vez maior de racionali<strong>da</strong>de. 55<br />
A própria essência <strong>da</strong> democracia envolve uma nota<br />
fun<strong>da</strong>mental, que lhe é intrínseca — a mu<strong>da</strong>nça. Os<br />
regimes democráticos se nutrem na ver<strong>da</strong>de de termos em<br />
mu<strong>da</strong>nça constante. São flexíveis, inquietos, devido a isso<br />
mesmo, deve corresponder ao homem desses regimes,<br />
maior flexibili<strong>da</strong>de de consciência. 56<br />
A falta desta permeabili<strong>da</strong>de parece vir sendo dos<br />
mais sérios descompassos dos regimes democráticos<br />
atuais, pela ausência, dela decorrente, de correspondência<br />
entre o sentido <strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça, característico não só <strong>da</strong><br />
democracia, mas <strong>da</strong> civilização tecnológica e uma certa<br />
rigidez mental do homem que, massificando-se, deixa de<br />
assumir postura conscientemente crítica diante <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>.<br />
Excluído <strong>da</strong> órbita <strong>da</strong>s decisões, ca<strong>da</strong> vez mais adstritas a<br />
pequenas minorias, é coman<strong>da</strong>do pelos meios de<br />
55 Ao usarmos a expressão racionali<strong>da</strong>de ou racionalismo, fazemos<br />
nossas as palavras de Popper: “O que chamo de ver<strong>da</strong>deiro<br />
racionalismo é o racionalismo de Sócrates. É a consciência <strong>da</strong>s<br />
próprias limitações, a modéstia intelectual dos que sabem quantas<br />
vezes erram e quanto dependem dos outros até para esse<br />
conhecimento”. POPPER, Karl — A Socie<strong>da</strong>de Democrática e Seus<br />
Inimigos — Tradução brasileira.<br />
56 Ver Zevedei Barbu — Democracy and Dictatorship.<br />
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