Educação como Prática da Liberdade - Paulo Freire - Gestão Escolar
Educação como Prática da Liberdade - Paulo Freire - Gestão Escolar
Educação como Prática da Liberdade - Paulo Freire - Gestão Escolar
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
que exigem dele o conhecimento crítico de sua reali<strong>da</strong>de,<br />
pela participação nela, pela sua intimi<strong>da</strong>de com ela,<br />
quanto mais superposto a essa reali<strong>da</strong>de e inclinado a<br />
formas ingênuas de encará-la. A formas ingênuas de<br />
percebê-la. A formas verbosas de representá-la. Quanto<br />
menos critici<strong>da</strong>de em nós, tanto mais ingenuamente<br />
tratamos os problemas e discutimos superficialmente os<br />
assuntos.<br />
Esta nos parecia uma <strong>da</strong>s grandes características de<br />
nossa educação. A de vir enfatizando ca<strong>da</strong> vez mais em<br />
nós posições ingênuas, que nos deixam sempre na<br />
periferia de tudo o que tratamos. Pouco ou quase na<strong>da</strong>,<br />
que nos leve a posições mais in<strong>da</strong>gadoras, mais inquietas,<br />
mais criadoras. Tudo ou quase tudo nos levando,<br />
desgraça<strong>da</strong>mente, pelo contrário, à passivi<strong>da</strong>de, ao<br />
“conhecimento” memorizado apenas, que, não exigindo<br />
de nós elaboração ou reelaboração, nos deixa em posição<br />
de inautêntica sabedoria.<br />
À nossa cultura fixa<strong>da</strong> na palavra 63 corresponde a<br />
nossa inexperiência do diálogo, <strong>da</strong> investigação, <strong>da</strong><br />
pesquisa, que, por sua vez, estão intimamente ligados à<br />
critici<strong>da</strong>de, nota fun<strong>da</strong>mental <strong>da</strong> mentali<strong>da</strong>de<br />
democrática.<br />
Por outro lado, somente de algum tempo para cá, se<br />
vinha sentindo a preocupação em nos fazermos<br />
identificados com nossa reali<strong>da</strong>de, em caráter sistemático.<br />
Era o clima <strong>da</strong> transição.<br />
Daí a nossa insistência no aproveitamento deste<br />
clima. E, a partir dele, tentarmos o esvaziamento de nossa<br />
educação de suas manifestações ostensivamente<br />
palavrescas. A superação de posições reveladoras de<br />
descrença no educando. Descrença no seu poder de fazer,<br />
de trabalhar, de discutir. Ora, a democracia e a educação<br />
democrática se fun<strong>da</strong>m ambas, precisamente, na crença<br />
no homem. Na crença em que ele não só pode mas deve<br />
discutir os seus problemas. Os problemas do seu País. Do<br />
seu Continente. Do mundo. Os problemas do seu<br />
trabalho. Os problemas <strong>da</strong> própria democracia.<br />
63 Ver Fernando de Azevedo — A Cultura Brasileira — Uma <strong>da</strong>s<br />
melhores obras nesse sentido, senão a melhor, já publica<strong>da</strong>s no<br />
Brasil.<br />
96