Educação como Prática da Liberdade - Paulo Freire - Gestão Escolar
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presença política <strong>da</strong>s classes populares. O movimento<br />
de educação popular, solidário à ascensão democrática<br />
<strong>da</strong>s massas, não poderia deixar de ser atingido. Desde<br />
antes do golpe de Estado seu trabalho se constituía<br />
num dos alvos preferidos dos grupos de direita. Todos<br />
sabiam <strong>da</strong> formação católica de seu inspirador e de seu<br />
objetivo básico: efetivar uma aspiração nacional<br />
apregoa<strong>da</strong>, desde 1920, por todos os grupos políticos,<br />
a alfabetização do povo brasileiro e a ampliação<br />
democrática <strong>da</strong> participação popular. Não obstante, os<br />
reacionários não podiam compreender que um<br />
educador católico se fizesse expressão dos oprimidos e<br />
menos ain<strong>da</strong> podiam compreender que a cultura leva<strong>da</strong><br />
ao povo pudesse conduzir à dúvi<strong>da</strong> sobre a<br />
legitimi<strong>da</strong>de de seus privilégios. Preferiram acusar<br />
<strong>Paulo</strong> <strong>Freire</strong> por idéias que não professa a atacar esse<br />
movimento de democratização cultural pois percebiam<br />
nele o gérmen <strong>da</strong> revolta.<br />
Mas se uma pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de traz o<br />
gérmen <strong>da</strong> revolta, nem por isso seria correto afirmar<br />
que esta se encontre, <strong>como</strong> tal, entre os objetivos do<br />
educador. Se ocorre é apenas e exclusivamente porque<br />
a conscientização divisa uma situação real em que os<br />
<strong>da</strong>dos mais freqüentes são a luta e a violência.<br />
Conscientizar não significa, de nenhum modo,<br />
ideologizar ou propor palavras de ordem. Se a<br />
conscientização abre caminho à expressão <strong>da</strong>s<br />
insatisfações sociais é porque estas são componentes<br />
reais de uma situação de opressão; se muitos dos<br />
trabalhadores recém-alfabetizados aderiram ao<br />
movimento de organização dos sindicatos é porque eles<br />
próprios perceberam um caminho legítimo para a<br />
defesa de seus interesses e de seus companheiros de<br />
trabalho; finalmente, se a conscientização <strong>da</strong>s classes<br />
populares significa radicalização política é<br />
simplesmente porque as classes populares são radicais,<br />
ain<strong>da</strong> mesmo quando não o saibam. Os grupos<br />
reacionários confundiram a educação e a política de<br />
modo sistemático em suas acusações. Isto era<br />
esperado. A conscientização <strong>da</strong>s massas, ain<strong>da</strong> quando<br />
não pudesse definir por si própria uma política popular<br />
autônoma, aparecia-lhes com todos os sinais de uma<br />
perigosa estratégia de subversão. O que em reali<strong>da</strong>de<br />
poderia causar espanto era constatar a incapaci<strong>da</strong>de<br />
<strong>da</strong>s forças interessa<strong>da</strong>s na mobilização popular em<br />
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