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Educação como Prática da Liberdade - Paulo Freire - Gestão Escolar

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implica em que, tanto a visão de si mesmo, <strong>como</strong> a do<br />

mundo, não podem absolutizar-se, fazendo-o sentir-se um<br />

ser desgarrado e suspenso ou levando-o a julgar o seu<br />

mundo algo sobre que apenas se acha. A sua integração o<br />

enraiza. Faz dele, na feliz expressão de Marcel, um ser<br />

“situado e <strong>da</strong>tado”. Daí que a massificação implique no<br />

desenraizamento do homem. Na sua “destemporalização”.<br />

Na sua a<strong>como</strong><strong>da</strong>ção. No seu ajustamento.<br />

Não houvesse esta integração, que é uma nota de<br />

suas relações, e que se aperfeiçoa na medi<strong>da</strong> em que a<br />

consciência se torna crítica, fosse ele apenas um ser <strong>da</strong><br />

a<strong>como</strong><strong>da</strong>ção ou do ajustamento, e a História e a Cultura,<br />

domínios exclusivamente seus, não teriam sentido. Faltarlhes-ia<br />

a marca <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de. Por isso, to<strong>da</strong> vez que se<br />

suprime a liber<strong>da</strong>de, fica ele um ser miramente ajustado<br />

ou a<strong>como</strong><strong>da</strong>do. E é por isso que, minimizado e cerceado,<br />

a<strong>como</strong><strong>da</strong>do a ajustamentos que lhe sejam impostos, sem o<br />

direito de discuti-los, o homem sacrifica imediatamente a<br />

sua capaci<strong>da</strong>de criadora. Esparta não se compara a<br />

Atenas, e Toynbee adverte-nos <strong>da</strong> inexistência do diálogo<br />

naquela e <strong>da</strong> disponibili<strong>da</strong>de permanente <strong>da</strong> segun<strong>da</strong> à<br />

discussão e ao debate <strong>da</strong>s idéias. A primeira, “fecha<strong>da</strong>”.<br />

A segun<strong>da</strong>, “aberta”. A primeira, rígi<strong>da</strong>. A segun<strong>da</strong>,<br />

plástica, inclina<strong>da</strong> ao novo.<br />

Os contatos, por outro lado, modo de ser próprio <strong>da</strong><br />

esfera animal, implicam, ao contrário <strong>da</strong>s relações, em<br />

respostas singulares, reflexas e não reflexivas e<br />

culturalmente inconseqüentes. Deles resulta a<br />

a<strong>como</strong><strong>da</strong>ção, não a integração. Portanto, enquanto o<br />

animal é essencialmente um ser <strong>da</strong> a<strong>como</strong><strong>da</strong>ção e do<br />

ajustamento, o homem o é <strong>da</strong> integração. A sua grande<br />

luta vem sendo, através dos tempos, a de superar os<br />

fatores que o fazem a<strong>como</strong><strong>da</strong>do ou ajustado. É a luta por<br />

sua humanização, ameaça<strong>da</strong> constantemente pela<br />

opressão que o esmaga, quase sempre até sendo feita — e<br />

isso é o mais doloroso — em nome de sua própria<br />

libertação.<br />

optar e vai sendo submetido a prescrições alheias que o minimizam e<br />

as suas decisões já não são suas, porque resulta<strong>da</strong>s de comandos<br />

estranhos, já não se integra. A<strong>como</strong><strong>da</strong>-se. Ajusta-se. O homem<br />

integrado é o homem Sujeito. A a<strong>da</strong>ptação é assim um conceito<br />

passivo — a integração ou comunhão, ativo. Este aspecto passivo se<br />

revela no fato de que não seria o homem capaz de alterar a reali<strong>da</strong>de,<br />

pelo contrário, altera-se a si para a<strong>da</strong>ptar-se. A a<strong>da</strong>ptação <strong>da</strong>ria<br />

margem apenas a uma débil ação defensiva. Para defender-se, o<br />

máximo que faz é a<strong>da</strong>ptar-se. Daí que a homens indóceis, com ânimo<br />

revolucionário, se chame de subversivos. De ina<strong>da</strong>ptados.<br />

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