Educação como Prática da Liberdade - Paulo Freire - Gestão Escolar
Educação como Prática da Liberdade - Paulo Freire - Gestão Escolar
Educação como Prática da Liberdade - Paulo Freire - Gestão Escolar
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Câmaras e Senados de que não podia participar o homem<br />
comum, enquanto homem comum? No descaso à<br />
educação popular a que sempre fomos relegados?<br />
Onde as condições de que tivessem emergido e se<br />
nutrido disposições mentais críticas e, por isso mesmo,<br />
permeavelmente democráticas?<br />
Na força <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des, fun<strong>da</strong><strong>da</strong> no poderio de uma<br />
burguesia enriqueci<strong>da</strong> no comércio, que substituiu o<br />
poder do patriciado rural em decadência?<br />
Não, estas não eram condições que tivessem<br />
constituído aquele “clima cultural específico” ao<br />
surgimento dos regimes democráticos, referidos por<br />
Barbu. A democracia que, antes de ser forma política, é<br />
forma de vi<strong>da</strong>, se caracteriza sobretudo por forte dose de<br />
transitivi<strong>da</strong>de de consciência no comportamento do<br />
homem. Transitivi<strong>da</strong>de que não nasce e nem se<br />
desenvolve a não ser dentro de certas condições em que o<br />
homem seja lançado ao debate, ao exame de seus<br />
problemas e dos problemas comuns. Em que o homem<br />
participe.<br />
“Uma reforma democrática — afirma Zevedei<br />
Barbu — ou uma ação democrática em geral, tem de ser<br />
feita não só com o consentimento do povo, mas com suas<br />
próprias mãos. Isto é obviamente ver<strong>da</strong>deiro. Exige,<br />
to<strong>da</strong>via, certas qualificações. A fim de construir sua<br />
socie<strong>da</strong>de com “suas mãos”, os membros de um grupo<br />
devem possuir considerável experiência e conhecimento<br />
<strong>da</strong> coisa pública (public administration). Necessitam,<br />
igualmente de certas instituições que lhes permitam<br />
participar na construção de sua socie<strong>da</strong>de. Necessitam,<br />
contudo de algo mais do que isto, necessitam de uma<br />
específica disposição mental (frame of mind), isto é, de<br />
certas experiências, atitudes, preconceitos e crenças,<br />
compartilhados por todos ou por uma grande maioria.” 46<br />
Entre nós, até antes <strong>da</strong> “rachadura” <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de<br />
brasileira que ofereceu as condições primeiras de<br />
participação, aconteceu exatamente o contrário. Era o<br />
alheamento do povo, a sua “assistencialização”.<br />
46 Barbu, Zevedei — Democracy and Dictatorship, pág. 13.<br />
81