Untitled - Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana
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R.B.S.H. 9(1):1998<br />
lhecimento é um processo fisiológico, não é uma enfermida<strong>de</strong> (Fagun<strong>de</strong>s,<br />
1995).<br />
Como cada um enfrenta a velhice é fruto da influência <strong>de</strong> valores,<br />
informações e tabus sociais. Em uma socieda<strong>de</strong> <strong>em</strong> que existe o preconceito<br />
contra o sexo na velhice, <strong>em</strong> que se acredita que o sexo para o velho<br />
seja feio, muito provavelmente, os idosos <strong>de</strong>ssa socieda<strong>de</strong> serão compelidos<br />
a abandonar os prazeres do sexo por achar<strong>em</strong> que sua ida<strong>de</strong> já passou,<br />
ou por se sentir<strong>em</strong> culpados por ter<strong>em</strong> essa necessida<strong>de</strong>. Não é incomum,<br />
a existência <strong>de</strong> um conflito nessa ida<strong>de</strong>, provocado pela divisão entre<br />
sentir a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> satisfação sexual e ter aprendido que aquilo é anormal.<br />
N<strong>em</strong> na velhice o ser humano parece conseguir viver b<strong>em</strong> a sua sexualida<strong>de</strong>.<br />
A outra maneira <strong>de</strong> reagir a isso é não viver a plenitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada<br />
ida<strong>de</strong> e querer mostrar-se s<strong>em</strong>pre jov<strong>em</strong>, com comportamentos, às vezes,<br />
ina<strong>de</strong>quados e incoerentes, como maneira <strong>de</strong> vestir, falar ou atitu<strong>de</strong>s irresponsáveis.<br />
Com o modismo da terapia <strong>de</strong> reposição hormonal, alguns apregoam<br />
a utilização <strong>de</strong> estrógenos pela mulher a partir dos 35 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>,<br />
o que não proce<strong>de</strong>, já que seus ovários estão funcionando regularmente e<br />
não há ainda queda das dosagens hormonais, o que só <strong>de</strong>ve acontecer por<br />
volta dos 45 a 50 anos.<br />
O amadurecer po<strong>de</strong> trazer limitações físicas, mas não <strong>de</strong>ve limitar a<br />
qualida<strong>de</strong> da vida, pois, se o espírito for estimulado, florescerá continuamente,<br />
refletindo-se na expressivida<strong>de</strong> corporal. A sexualida<strong>de</strong> humana,<br />
<strong>em</strong> qualquer ida<strong>de</strong>, terá <strong>de</strong> ser s<strong>em</strong>pre uma invenção do espírito, um<br />
<strong>de</strong>safio à própria finitu<strong>de</strong>. S<strong>em</strong> essa dimensão, ela po<strong>de</strong> per<strong>de</strong>r-se na<br />
mesmice, na existência da performance, e não encontra sua vocação maior,<br />
ou seja, a <strong>de</strong>scoberta do algo mais, do além <strong>de</strong> nós mesmos. Essa dimensão<br />
será possibilitada pelo afeto, caminho que <strong>de</strong>scobrimos <strong>de</strong> tornar o<br />
outro especial.<br />
A sexualida<strong>de</strong> na terceira ida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ter uma grife da sabedoria.<br />
Sabedoria que não se <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>ixar, perturbar por possíveis entraves corporais<br />
<strong>em</strong> seu natural processo <strong>de</strong> amadurecimento. “Tudo o que for flexível<br />
e fluente ten<strong>de</strong> a crescer, tudo o que for rígido e bloqueado ten<strong>de</strong> à<br />
morte”, pensa Tao Te Ching, da China Antiga. Se conquistarmos tal flexibilida<strong>de</strong>,<br />
estar<strong>em</strong>os aptos a viver uma ida<strong>de</strong> madura e bonita, com características<br />
<strong>de</strong> sabedoria, serenida<strong>de</strong>, paz do <strong>de</strong>ver cumprido e alegria <strong>de</strong><br />
manter-se <strong>em</strong> alta estima (Carida<strong>de</strong>, 1997).<br />
O <strong>de</strong>sejo do amor não cessa no indivíduo por nenhum <strong>de</strong>creto jubilatório.<br />
Amor é <strong>de</strong>sejo da alma que acompanha o corpo até o fim. Velhice<br />
não quer dizer renúncia ao amor. É, <strong>em</strong> verda<strong>de</strong>, a fase da vida <strong>em</strong> que mais<br />
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