Untitled - Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana
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R.B.S.H. 9(1):1998<br />
consciência <strong>de</strong> um perigo incessante que constitui, por sue vez, incitação a<br />
se falar <strong>de</strong>le.<br />
A colocação do sexo <strong>em</strong> discurso provavelmente estaria or<strong>de</strong>nada<br />
no sentido <strong>de</strong> afastar da realida<strong>de</strong> as formas <strong>de</strong> sexualida<strong>de</strong>s insubmissas à<br />
economia estrita da reprodução. Através <strong>de</strong> tais discursos multiplicamse as<br />
con<strong>de</strong>nações jurídicas das perversões menores. Anexou-se também a irregularida<strong>de</strong><br />
sexual à doença mental. Da infância à velhice foi <strong>de</strong>finida uma<br />
norma do <strong>de</strong>senvolvimento sexual e cuidadosamente caracterizados todos<br />
os <strong>de</strong>svios possíveis.<br />
Nesse contexto, crianças <strong>de</strong>masiadamente espertas, meninas precoces,<br />
colegiais ambíguos, serviçais e educadores duvidosos, maridos cruéis<br />
ou maníacos, colecionadores solitários povoam os conselhos <strong>de</strong> disciplina,<br />
as casas <strong>de</strong> correção, as colônias penitenciárias, os tribunais e asilos. Estes<br />
no <strong>de</strong>correr do século carregaram o estigma da “loucura moral”, da “neurose<br />
genital”, da “aberração do sentido genésico”, da “<strong>de</strong>generescência” ou<br />
do “<strong>de</strong>sequilíbrio psíquico” (sexualida<strong>de</strong>s periféricas).<br />
Essa nova caça às sexualida<strong>de</strong>s periféricas provoca a incorporação<br />
das perversões e nova especificação dos indivíduos. O homossexual<br />
do século XIX tornou-se um personag<strong>em</strong>, um passado, uma história,<br />
uma infância, um caráter, uma forma <strong>de</strong> vida. A categoria psicológica,<br />
psiquiátrica a médica da homossexualida<strong>de</strong> constitui-se, no dia <strong>em</strong> que<br />
foi caracterizada, menos como um tipo <strong>de</strong> relação sexual do que como<br />
uma certa qualida<strong>de</strong> da sensibilida<strong>de</strong> sexual, uma certa maneira <strong>de</strong> intervir,<br />
<strong>em</strong> si mesmo, o masculino e o f<strong>em</strong>inino. O famoso artigo <strong>de</strong><br />
Westphal <strong>em</strong> 1870, sobre as “Sensações sexuais contrárias”, po<strong>de</strong> servir<br />
<strong>de</strong> data natalícia.<br />
Os psiquiatras do século XIX classificaram a sexualida<strong>de</strong> com<br />
estranhos nomes <strong>de</strong> batismo como: os exibicionistas <strong>de</strong> Lasègue, os<br />
fetichistas <strong>de</strong> Binet, os zoófilos <strong>de</strong> Rohle<strong>de</strong>r, os mixoscopófilos, os ginecomastos,<br />
os presbióficos, os invertidos sexo estéticos e as mulheres disparêunicas.<br />
A implantação das perversões serviu como um instrumento do<br />
po<strong>de</strong>r. Através do isolamento, da intensificação e da consolidação das sexualida<strong>de</strong>s<br />
periféricas as relações do po<strong>de</strong>r com o sexo e o prazer se ramificaram<br />
e se multiplicaram. Essa relação <strong>de</strong> sexo e po<strong>de</strong>r, a partir do século<br />
XIX, é garantida pelos lucros econômicos que, por intermédio da medicina,<br />
psiquiatria, prostituição e da pornografia, vinculavam ao mesmo<br />
t<strong>em</strong>po a questão do prazer e do po<strong>de</strong>r.