Untitled - Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana
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R.B.S.H. 9(1):1998<br />
se envolv<strong>em</strong> e é <strong>de</strong>finida, basicamente, pela alegria e pelo prazer <strong>de</strong> sua<br />
vivência. A realida<strong>de</strong> do jogo ultrapassa a esfera da vida humana.<br />
O jogo t<strong>em</strong> como características marcantes, na visão <strong>de</strong> Huizinga:<br />
ser livre ou voluntário, ser sério (ainda que evoque o mundo do faz-<strong>de</strong>conta),<br />
ser <strong>de</strong>sinteressado, distinto da vida, po<strong>de</strong>r ser repetido e criar uma<br />
or<strong>de</strong>m ao mesmo t<strong>em</strong>po que é or<strong>de</strong>m.<br />
O jogo é importante <strong>em</strong> todas as fases da vida; favorece o processo<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento humano numa dinâmica: estimula o processo <strong>de</strong> estruturação<br />
afetivo-cognitiva da criança, socializa criativamente o jov<strong>em</strong> e<br />
mantém o espírito <strong>de</strong> realização no adulto.<br />
Piaget (1990), gran<strong>de</strong> estudioso do <strong>de</strong>senvolvimento humano, estudou<br />
a importância do jogo no <strong>de</strong>senvolvimento infantil. Para ele, jogo e<br />
imitação, intimamente ligados, caracterizam-se por duas funções: assimilação<br />
das coisas ao eu ou entre elas, segundo os interesses do eu, e acomodação<br />
dos esqu<strong>em</strong>as <strong>de</strong> ação do sujeito às coisas e mo<strong>de</strong>los anteriores*.<br />
Analisando os tipos <strong>de</strong> jogos que predominam <strong>em</strong> cada fase do<br />
<strong>de</strong>senvolvimento intelectual, por ele já caracterizadas, Piaget (1990) distingue<br />
os seguintes jogos: <strong>de</strong> exercício, simbólicos e <strong>de</strong> regras.<br />
a) Jogos <strong>de</strong> exercício<br />
Muito comuns na faixa etária <strong>de</strong> 0 a 2 anos, a chamada fase funcional<br />
para Chateau (1987), e que correspon<strong>de</strong> à fase sensório- motora,<br />
segundo Piaget, t<strong>em</strong> como um dos ex<strong>em</strong>plos marcantes a brinca<strong>de</strong>ira do<br />
chocalho jogado pelo bebê para fora do berço, apanhado pela mãe e a ele<br />
<strong>de</strong>volvido, inúmeras vezes. A persistente repetição contribui para um fantástico<br />
aprendizado, afirma Bettelheim (1987) - o bebê se apercebe po<strong>de</strong>ndo<br />
influenciar o meio objetivo, afirmando a sua vonta<strong>de</strong> <strong>em</strong> segurança,<br />
renunciando, t<strong>em</strong>porariamente, ao controle <strong>de</strong> seus pertences, s<strong>em</strong> com<br />
isso perdê-los, tendo, enfim, uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>.<br />
O autoconhecimento <strong>em</strong> construção manifesta-se também na forma<br />
<strong>de</strong> brincar, que evolui do fechar os olhos para o virar a cabeça, para fazer<br />
as coisas <strong>de</strong>saparecer<strong>em</strong> do seu campo <strong>de</strong> visão (coisas <strong>de</strong>sagradáveis ao<br />
bebê) e, quando a fala se <strong>de</strong>senvolve, evolui para a <strong>em</strong>issão da palavra<br />
“não” (conceito formado a partir <strong>de</strong>ssas reações).<br />
* Assimilação = tornar uma coisa s<strong>em</strong>elhante a mim. O mundo externo é assimilado pelo interno;<br />
mas a parte do mundo que não assimilamos é aquela na qual nos acomodamos. Daí. acomodação<br />
= situação <strong>em</strong> que saio <strong>de</strong> mim mesmo e entro no mundo/mo<strong>de</strong>lo externo.