Untitled - Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana
Untitled - Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana
Untitled - Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
40<br />
R.B.S.H. 9(1):1998<br />
E foi seguindo esse estereótipo que se <strong>de</strong>senvolveu a imag<strong>em</strong> da<br />
boa mulher, tão cultuada pelas religiões e aplaudida pela platéia machista.<br />
A mulher santa ou <strong>de</strong>mônio per<strong>de</strong>u a dimensão <strong>de</strong> seu verda<strong>de</strong>iro<br />
papel como ser humano, tornando-se ora objeto <strong>de</strong> adoração, fonte <strong>de</strong> virtu<strong>de</strong>s<br />
e <strong>de</strong> aceitação incondicional das expectativas do seu amo e senhor,<br />
ora execrada como fonte <strong>de</strong> todo mal, perversa e maquiavélica.<br />
A mulher i<strong>de</strong>al tornou-se uma escrava e prisioneira <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma<br />
redoma, preço que lhe foi exigido <strong>em</strong> troca do respeito e <strong>de</strong> um Amor mutilado.<br />
Por isso mesmo se diz que o casamento ainda representa significado<br />
diferente para o hom<strong>em</strong> e para a mulher, e isso t<strong>em</strong> provocado tantos<br />
<strong>de</strong>sencontros e infelicida<strong>de</strong>s.<br />
Para o hom<strong>em</strong>, o casamento é um acordo <strong>de</strong> soli<strong>de</strong>z, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que<br />
sejam respeitados seus direitos <strong>de</strong> ir e vir.<br />
Esquece do vínculo, quando isso lhe for conveniente, e po<strong>de</strong> olhar<br />
<strong>em</strong> qualquer direção s<strong>em</strong> ser questionado. Dessa forma, a mulher garantirá<br />
direitos <strong>de</strong> vivenciar o paraíso <strong>de</strong> sua companhia, que lhe está sendo oferecido<br />
<strong>de</strong> forma tão magnânima.<br />
R<strong>em</strong>iniscência <strong>de</strong> um Patriarcalismo ancestral, a mulher t<strong>em</strong> alimentado<br />
essa postura através dos séculos, sentindo uma necessida<strong>de</strong> visceral<br />
<strong>de</strong> ser subjugada, realizando a fantasia do po<strong>de</strong>r do macho. Só assim<br />
ela seria a mulher perfeita, digna <strong>de</strong> ser amada porque simbolizaria o<br />
altruísmo e a prestabilida<strong>de</strong> <strong>em</strong> todas as situações que lhe for<strong>em</strong> exigidas.<br />
E o slogan: “Atrás <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> Hom<strong>em</strong> t<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre uma gran<strong>de</strong><br />
Mulher” passava a ser o seu maior orgulho.<br />
Jamais pretendiam ficar ao lado <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> hom<strong>em</strong>, e ai daquelas<br />
que se arvoravam <strong>em</strong> ter esse direito.<br />
Com isso, enquanto o hom<strong>em</strong> direcionava a sua vida, a mulher<br />
entregava as ré<strong>de</strong>as da sua, numa relação <strong>de</strong> inferiorida<strong>de</strong>, <strong>em</strong> nome do<br />
AMOR. Submeteu-se aos jazeres do parceiro, aos amigos do parceiro, a<br />
ajudá-lo profissionalmente e até a receber salários indignos quando<br />
começou a surgir a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> profissionalização.<br />
No campo sexual, mesmo <strong>de</strong>pois do advento dos anticoncepcionais,<br />
e da conseqüente liberação f<strong>em</strong>inina, ainda, se observam as seqüelas da<br />
ditadura masculina. A mulher adquiriu o direito <strong>de</strong> dizer com qu<strong>em</strong> quer ter<br />
sexo e quando quer, mas, nas relações <strong>de</strong> afeto, o hom<strong>em</strong> ainda usa a força<br />
física ou as diferenças fisiológicas para tiranizá-la. E esse drama lhe parece<br />
<strong>de</strong>sesperador.