Untitled - Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana
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R.B.S.H. 9(1):1998<br />
Outro conceito que consi<strong>de</strong>ramos necessário <strong>de</strong>screver, diz respeito<br />
ao <strong>de</strong> valor, por ser aquele que, segundo MARCONI (1985: 141), “incentiva<br />
e orienta o comportamento humano”, a que contribui para a<br />
expressão dos sentimentos. Por ser um termo que contém <strong>em</strong> si uma carga<br />
muito ampla <strong>de</strong> significados, buscar<strong>em</strong>os <strong>de</strong>limitá-lo, respaldadas <strong>em</strong><br />
FIRTH (1974: 59), como sendo “a qualida<strong>de</strong> da preferência atribuída a um<br />
objeto, <strong>em</strong> virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma relação entre meios a fins, na ação social”. Esses<br />
dois conceitos dão uma idéia <strong>de</strong> valor, como algo construído pelo indivíduo,<br />
diante das oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ações sociais que se lhes apresentam,<br />
atribuindo a um objeto ou evento uma qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> preferência, que contribu<strong>em</strong><br />
para incentivar e orientar os seus comportamentos.<br />
No tocante à qualida<strong>de</strong> que é atribuída ao valor, FIRTH (1974: 60)<br />
apresenta seis tipos: tecnológico, econômico, moral, ritual, estético e associativo.<br />
Enten<strong>de</strong>mos que o casamento po<strong>de</strong> estar relacionado a esses tipos<br />
<strong>de</strong> qualificativos do valor, <strong>em</strong> especial, abordar<strong>em</strong>os os <strong>de</strong> moral, estético,<br />
ritual e associativo. Este po<strong>de</strong> ser visto como <strong>em</strong>bricado com o valor<br />
moral, por ser um aspecto que legitima a união dos dois indivíduos, perante<br />
uma socieda<strong>de</strong>, cujo direito é extensivo a outros, conforme os padrões adotados<br />
por essa mesma socieda<strong>de</strong>; com o valor estético, cujos adornos e vestimentas<br />
conce<strong>de</strong>m aspectos vinculados ao belo e ao bom, segundo esses<br />
mesmos padrões. Quanto ao valor associativo, o casamento transmite uma<br />
idéia <strong>de</strong> comportamento que é partilhado não só pelo casal, mas, e principalmente,<br />
pelo conglomerado <strong>de</strong> pessoas, tornando uma ativida<strong>de</strong> particular<br />
<strong>em</strong> pública, ao mesmo t<strong>em</strong>po.<br />
Propositadamente, <strong>de</strong>ixamos para abordar acerca do valor ritual por<br />
último, <strong>de</strong>vido ao reconhecimento da sua amplitu<strong>de</strong>. Várias são as colocações<br />
a respeito <strong>de</strong> ritual, mas introduzimos o t<strong>em</strong>a com a <strong>de</strong> CAMP-<br />
BELL (1990: 192), que o <strong>de</strong>fine como “a encenação <strong>de</strong> um mito”. Para esse<br />
autor, “o casamento é uma experiência <strong>de</strong> uma vida mitológica”, na qual as<br />
funções do mito são <strong>de</strong>senvolvidas. Ele afirma, ainda, que o mito po<strong>de</strong> ser<br />
entendido como uma “metáfora da potencialida<strong>de</strong> espiritual do ser<br />
humano”.<br />
Dessa forma, o casamento visto por CAMPBELL (1990), como um<br />
ritual e este como uma encenação do potencial <strong>de</strong> espiritualida<strong>de</strong> do ser<br />
humano, <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penha as mesmas funções do mito, atribuídas por esse<br />
autor, que são: a mística, a cosmológica, a sociológica e a pedagógica.<br />
Assim, o casamento enquanto uma encenação do mito, ao aten<strong>de</strong>r a função<br />
mística, possibilita a abertura para as dimensões do mistério. Nesse sentido,<br />
a mitologia grega, contada por ARISTÓFANES (1987) <strong>em</strong> O banquete,<br />
<strong>de</strong> Platão, aponta que havia criaturas (andróginas) compostas <strong>de</strong> partes que<br />
correspon<strong>de</strong>m, na atualida<strong>de</strong>, a dois seres humanos, e que foram separadas