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ESTRATÉGIAS DE VIDA E DE MORTE - Departamento de História ...

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ativida<strong>de</strong> lucrativa. – fosse na agricultura ou no comércio -, e estava <strong>de</strong>saparecendo<br />

<strong>de</strong>vido a gran<strong>de</strong> urbanização em São Paulo no século XIX. 32<br />

Nazzari compreen<strong>de</strong>, através da análise dos dotes familiares, as mudanças<br />

sofridas nessa forma <strong>de</strong> transmissão <strong>de</strong> bens. No século XVII os dotes eram compostos<br />

principalmente <strong>de</strong> meios <strong>de</strong> produção, já no século XIX eram constituídos em sua<br />

maioria <strong>de</strong> bens <strong>de</strong> consumo. Os meios <strong>de</strong> produção eram compostos <strong>de</strong> recursos<br />

naturais e ferramentas que o trabalho transformava em um produto para ser consumido<br />

ou trocado. Os bens <strong>de</strong> consumo, eram normalmente usados ou consumidos, embora<br />

também pu<strong>de</strong>ssem ser vendidos, fornecendo assim um outro tipo <strong>de</strong> consumo, ou<br />

transformando-se no capital necessário para compra os meios <strong>de</strong> produção. 33 Por<br />

exemplo, os escravos seriam classificados como meios <strong>de</strong> produção.<br />

Uma questão importante na transmissão <strong>de</strong> bens eram as doações em vida.<br />

Utilizados por aqueles proprietários que não queriam uma fragmentação do bem ou<br />

dificulda<strong>de</strong>s após sua morte, a doação <strong>de</strong>monstra uma estratégia familiar para a retenção<br />

da proprieda<strong>de</strong>. As or<strong>de</strong>nações <strong>de</strong>cretaram que tudo que fosse recebido por uma filha ou<br />

um filho <strong>de</strong> seus pais <strong>de</strong>veria vir <strong>de</strong>scrito à colação nos inventários quando seus pais<br />

morressem. 34 Desta forma, a análise <strong>de</strong>stas colações po<strong>de</strong>m revelar o que caracterizava<br />

a estratégia familiar numa certa região.<br />

De qualquer forma, a mudança da composição dos dotes foi acompanhada por<br />

um leve afrouxamento do po<strong>de</strong>r patriarcal sobre os filhos adultos. O fato <strong>de</strong> a<br />

composição dos dotes paulistas se comporem principalmente <strong>de</strong> bens <strong>de</strong> consumo em<br />

meados do século XIX, <strong>de</strong>monstra a transformação pela qual a família estava passando:<br />

<strong>de</strong> uma unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produção para a separação da família e a produção tornando seus<br />

membros consumidores.<br />

Entretanto, isto só se ocorrerá <strong>de</strong> maneira completa no final do século XIX. O<br />

que ocorria durante gran<strong>de</strong> parte do novecentos era que através da formação <strong>de</strong> uma<br />

família o indivíduo estaria utilizando uma estratégia para obter sua sobrevivência e sua<br />

inserção na socieda<strong>de</strong>, conseguindo, <strong>de</strong>ste modo, adquirir escravos e terras. Assim, a<br />

compreensão do acúmulo <strong>de</strong>stes dois fatores, mão-<strong>de</strong>-obra escrava e proprieda<strong>de</strong>s, nos<br />

ajuda a enten<strong>de</strong>r algum dos mecanismos <strong>de</strong> ascensão social e econômica, também joga<br />

luz sobre o funcionamento <strong>de</strong> uma região agrária na segunda meta<strong>de</strong> do século XIX.<br />

32 Nazzari, Muriel, Dotes Paulisatas: Composição e transformações (1600-1870). IN: Revista Brasileira<br />

<strong>de</strong> <strong>História</strong>, São Paulo, vol. 9 nº 17, pp. 87-100, set. 88/fev.89.<br />

33 ibi<strong>de</strong>m, p. 89<br />

34 ibi<strong>de</strong>m, p. 91<br />

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