ESTRATÉGIAS DE VIDA E DE MORTE - Departamento de História ...
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A igreja se empenhou muito para que o clero pu<strong>de</strong>sse exercer suas missões espirituais e<br />
sociais com dignida<strong>de</strong>. A tarefa foi dura, sobretudo porque ele estava habituado a uma<br />
disciplina frouxa, adotando atitu<strong>de</strong>s freqüentemente contrárias as da hierarquia 72 .<br />
Kátia Mattoso diz que o clero, no século XIX, conservava as mesmas<br />
características dos séculos passados. Insuficientemente formados para exercer sua<br />
missão sacerdotal, sem terem recebido uma preparação religiosa séria, os padres<br />
estavam muito mais impregnados <strong>de</strong> literatura profana que <strong>de</strong> letras latinas piedosas. 73<br />
A influência <strong>de</strong>sse clero sobre a alma popular continuava a ser gran<strong>de</strong>; mas o<br />
comportamento <strong>de</strong> boa parte <strong>de</strong>les levou os fiéis a estabelecer uma diferença entre o<br />
padre <strong>de</strong>ntro da Igreja, em sua função sagrada, e o padre na vida profana e cotidiana,<br />
que ele vivenciava como todo mundo.<br />
A questão do celibato foi <strong>de</strong>batida <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os primórdios da Igreja brasileira. Mas<br />
ela só foi entrar na pauta das discussões do Estado a partir <strong>de</strong> 1827. Os fiéis, junto com<br />
os bispos da Bahia e do Maranhão, se baseando no Concílio <strong>de</strong> Trento procuravam<br />
abordar aspectos teológicos, jurídicos e históricos com relação ao celibato. Para este<br />
lado conservador, a reforma moral do clero passava pela reforma geral dos costumes,<br />
por uma formação verda<strong>de</strong>iramente religiosa <strong>de</strong>ntro dos seminários e por uma rigorosa<br />
seleção dos candidatos ao sacerdócio.<br />
Para os reformadores liberais, o celibato era algo sem mérito. A hipocrisia que se<br />
instalara entre os sacerdotes atingia as bases morais da socieda<strong>de</strong>. Pôr fim ao celibato<br />
equivalia a prestar um imenso serviço aos cristãos. O Estado, através do parlamento<br />
<strong>de</strong>via agir nesse sentido, já que o celibato não tinha fundamento teológico: era apenas<br />
uma lei <strong>de</strong> direito eclesiástico.<br />
Diversos bispos <strong>de</strong> renome no Brasil propuseram uma reforma interna da Igreja<br />
entre as décadas <strong>de</strong> 1820 e 1840 74 . Com essência tri<strong>de</strong>ntina, o programa <strong>de</strong> reformas<br />
lançado por eles se resumia a três pontos: 1) Fazer do clero brasileiro um corpo<br />
instruído e sadio – o exercício <strong>de</strong> sua missão espiritual <strong>de</strong>veria suplantar suas ativida<strong>de</strong>s<br />
políticas; 2) trabalhar pela instrução religiosa do povo através da catequese e, 3)<br />
assegurar a in<strong>de</strong>pendência da Igreja em relação ao po<strong>de</strong>r temporal.<br />
72 Mattoso, Kátia M. <strong>de</strong> Queirós. Bahia, século XIX. Uma província no Império. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Ed. Nova<br />
Fronteira, 1992, p. 297<br />
73 Ibi<strong>de</strong>m, p. 308<br />
74 Ibi<strong>de</strong>m, p. 314<br />
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