ESTRATÉGIAS DE VIDA E DE MORTE - Departamento de História ...
ESTRATÉGIAS DE VIDA E DE MORTE - Departamento de História ...
ESTRATÉGIAS DE VIDA E DE MORTE - Departamento de História ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Introdução<br />
O trabalho que proponho se preocupará em analisar os ritos fúnebres como<br />
signos da posição dos indivíduos na hierarquia social na vila <strong>de</strong> São José dos Pinhais,<br />
no Paraná, na segunda meta<strong>de</strong> do século XIX. A historiografia produzida sobre este<br />
tema mostra que os ritos fúnebres ocupavam um lugar <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância na<br />
socieda<strong>de</strong> brasileira dos séculos XVI ao XIX. Porém, o ritual fúnebre barroco pomposo,<br />
que era um indicador do po<strong>de</strong>r e da posição do <strong>de</strong>funto na estrutura social, estaria, na<br />
segunda meta<strong>de</strong> do século XIX, em <strong>de</strong>cadência, <strong>de</strong>vido a três fatores principais: a<br />
romanização da Igreja, a tendência higienista, e a construção <strong>de</strong> cemitérios.<br />
A análise dos ritos fúnebres e suas relações com o contexto social que os<br />
envolvem, não po<strong>de</strong> ser, logicamente, <strong>de</strong>sprendida do pensamento religioso dos<br />
personagens que participavam <strong>de</strong>ssas cerimônias. O funeral inserido, <strong>de</strong>sta forma, em<br />
um universo predominantemente Católico como o Brasil, nos leva a analisar as<br />
características que eram concernentes a essa crença no Brasil dos séculos passados. A<br />
vida religiosa no Brasil dos séculos XVII ao XIX é um tema extremamente frutífero <strong>de</strong><br />
se estudar, pois o catolicismo herdado dos portugueses junto com alguns resquícios <strong>de</strong><br />
rituais africanos produziram uma religiosida<strong>de</strong> extremamente diversa e rica. Uma<br />
religiosida<strong>de</strong> mais concreta do que espiritual, ligada mais à pompa do que à <strong>de</strong>voção,<br />
como Sérgio Buarque <strong>de</strong> Holanda percebeu. 1 E on<strong>de</strong> se po<strong>de</strong> notar melhor isto do que<br />
nos funerais <strong>de</strong> outrora? Os ritos fúnebres barrocos comportavam um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong><br />
símbolos. Uma pessoa <strong>de</strong> fora tomava o fator lúdico <strong>de</strong> todas aquelas representações da<br />
morte como o elemento central. Entretanto, como notou Walter Benjamim, a obsessão<br />
barroca com a morte tinha muito pouco <strong>de</strong> lúdico, como veremos à frente.<br />
Por trás <strong>de</strong> toda a gran<strong>de</strong>za dos funerais <strong>de</strong> outrora, um sentido muito importante<br />
“tentava” se escon<strong>de</strong>r. Tentava, porque o verda<strong>de</strong>iro sentido <strong>de</strong> toda aquela pompa era<br />
do conhecimento <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> parte da população do Brasil dos tempos coloniais e<br />
imperiais: <strong>de</strong>monstrar a posição que o <strong>de</strong>funto ocupava na socieda<strong>de</strong>. Os funerais <strong>de</strong><br />
fato se constituíam em verda<strong>de</strong>iros “espelhos das hierarquias”, nas palavras <strong>de</strong> Sheila<br />
Faria. 2<br />
Assim, a morte <strong>de</strong>ixa marcas muito profundas no cimento social, e, po<strong>de</strong>-se<br />
através do estudo das atitu<strong>de</strong>s frente a ela, compreen<strong>de</strong>r um pouco o funcionamento das<br />
1 Holanda, Sérgio Buarque <strong>de</strong>. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995, p. 150-151.<br />
2 Faria, Sheila Siqueira <strong>de</strong> Castro. Fortuna e família no cotidiano colonial (su<strong>de</strong>ste, século XVIII). Tese<br />
<strong>de</strong> Doutoramento, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral Fluminense. Niterói, 1994.<br />
6