ESTRATÉGIAS DE VIDA E DE MORTE - Departamento de História ...
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que os maiores produtores da região ten<strong>de</strong>ram a concentrar socialmente a força <strong>de</strong><br />
trabalho cativo local, garantindo a manutenção do trabalho escravo com instituidor<br />
principal das hierarquias sócio-econômicas locais, mas, para ela, não se po<strong>de</strong> negar que<br />
a queda expressiva dos estoques <strong>de</strong> escravos no município <strong>de</strong> Capivary reflete a<br />
impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sses lavradores <strong>de</strong> empreen<strong>de</strong>rem uma expansão das lavouras que<br />
tivessem a mínima correspondência com os ambiciosos planos <strong>de</strong> expansão revelados<br />
pelos registros paroquiais <strong>de</strong> terras analisados pela autora.<br />
Entretanto, como a condição <strong>de</strong> proprietários <strong>de</strong> terras era comum à categoria<br />
dos gran<strong>de</strong>s proprietários, esse elemento por si só não era capaz <strong>de</strong> diferenciá-los<br />
socialmente, o que apenas a dimensão da exploração agrícola e dos plantéis <strong>de</strong> escravos<br />
podia fazer. Uma fazenda, entretanto, significava enquanto regra, a apropriação privada<br />
e legal <strong>de</strong> terrenos suficientemente extensos para garantir pelo menos a reprodução<br />
simples à médio prazo dos cafezais, o que se traduzia no peso significativo da presença<br />
<strong>de</strong> matas na valorização comercial do terreno. 37<br />
A análise das pessoas que se encontravam na condição oposta aos gran<strong>de</strong>s<br />
proprietários revela respon<strong>de</strong> muitas questões referentes à “pobreza”. Hebe Mattos<br />
argumenta que os pequenos produtores se relacionavam com os gran<strong>de</strong>s produtores<br />
como iguais, pois tanto os primeiros como os segundos foram donos <strong>de</strong> terra e tinham<br />
seus interesses voltados em torno <strong>de</strong>ssa proprieda<strong>de</strong>. Essa igualda<strong>de</strong> formal se<br />
consolidava na relação <strong>de</strong> compadrio, que escondia o princípio da dominação pessoal,<br />
manifestado na assistência econômica prestada por um e na retribuição do outro com<br />
filiação política.<br />
Segundo Mattos, são a fronteira agrícola aberta e a transitorieda<strong>de</strong> das fortunas<br />
os fatores <strong>de</strong>terminantes dos principais traços constitutivos <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> como<br />
Capivary. São as condições <strong>de</strong> utilização da força <strong>de</strong> trabalho escrava num sentido<br />
estritamente comercial, ou seja, voltada para a produção <strong>de</strong> um exce<strong>de</strong>nte realizado nas<br />
trocas internacionais ou nos circuitos internos <strong>de</strong> comercialização, os elementos capazes<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>finir aquelas camadas sociais capazes <strong>de</strong> serem absorvidas, ainda que como<br />
“clientela” (caso dos pequenos produtores), pela or<strong>de</strong>m institucional que se organiza a<br />
partir da emancipação política.<br />
Mattos argumenta que as camadas sociais que formavam a “pobreza agrícola”,<br />
tantas vezes mencionadas em fontes da época e análises historiográficas, apenas<br />
37 Ibi<strong>de</strong>m, p. 73<br />
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