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ESTRATÉGIAS DE VIDA E DE MORTE - Departamento de História ...

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homens pobres, mesmo solteiros, para o casamento legal. Mais do que a localização da<br />

terra, a família era uma condição básica para a sobrevivência, em zonas agrárias, e<br />

também para o enriquecimento.<br />

Sheila Faria percebeu em Campo dos Goitacases que muitos homens solteiros e<br />

comerciantes não eram proprietários <strong>de</strong> bens imóveis. Segundo ela, isso reflete uma<br />

vivência itinerante, pois a ativida<strong>de</strong> mercantil, sempre passível <strong>de</strong> mudança (<strong>de</strong> praça<br />

mercantil ou para a ativida<strong>de</strong> agrária), impedia o enraizamento.<br />

Na agricultura, a movimentação é mais lenta, os ciclos <strong>de</strong> semeadura, limpeza e<br />

colheita são relativamente longos, mesmo para uma simples lavoura <strong>de</strong> subsistência.<br />

Lavradores precisam <strong>de</strong> uma organização familiar que, além <strong>de</strong> lhes preparar a comida e<br />

a morada, dividisse o trabalho agrícola e lhe <strong>de</strong>ssem filhos, mão-<strong>de</strong>-obra básica para<br />

aspirar a melhores condições <strong>de</strong> vida. Sheila Faria notou que quando um homem ficava<br />

viúvo com filhos pequenos, em zonas agrárias, normalmente casava <strong>de</strong> novo,<br />

incorporando-se a outra unida<strong>de</strong> doméstica ou dava seus filhos para parentes, vizinhos<br />

ou compadres criarem. 49<br />

O casamento oficial da igreja, segundo os padrões dominantes na socieda<strong>de</strong><br />

escravista brasileira, significava garantir o mínimo das condições <strong>de</strong> sobrevivência em<br />

áreas agrárias. Significava, por outro lado, a aceitação da comunida<strong>de</strong> local ao<br />

“forasteiro”. Quando casado, o migrante se inseria nos mol<strong>de</strong>s vigentes naquela<br />

socieda<strong>de</strong>. Casando com mães <strong>de</strong> filhos em ida<strong>de</strong> produtiva, solteiras ou viúvas, não<br />

importa, garantia a herança dos bens adquiridos por ela e por sua prole ou em conjunto,<br />

dado não negligenciável numa época <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong>, principalmente das mães<br />

na hora do parto. 50<br />

Desta forma, temos as características caras à um meio rural <strong>de</strong> amplitu<strong>de</strong>s<br />

menores do que gran<strong>de</strong>s centros como regiões cafeeiras em São Paulo e produções<br />

agrícolas no Rio <strong>de</strong> Janeiro e no nor<strong>de</strong>ste. Com poucas especificida<strong>de</strong>s po<strong>de</strong>mos pensar<br />

no contexto <strong>de</strong> São José dos Pinhais tendo como base essas discussões. Elas nos ajudam<br />

a pensar um universo rural <strong>de</strong> fronteira, on<strong>de</strong> a extrema mobilida<strong>de</strong> dos indivíduos e a<br />

posse da terra se revelavam <strong>de</strong> caráter sempre provisório, passíveis <strong>de</strong> influência da elite<br />

local. Na seção seguinte, avançaremos no conhecimento da hierarquia social <strong>de</strong> São<br />

José dos Pinhais, principalmente no que concerne a posse <strong>de</strong> bens.<br />

49 Ibi<strong>de</strong>m, 354<br />

50 Ibi<strong>de</strong>m, p. 369<br />

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