ESTRATÉGIAS DE VIDA E DE MORTE - Departamento de História ...

evitar possíveis problemas judiciais ou; b)que Ana Ricarda utilizava mão-de-obra
arrendada. As duas hipóteses podem ser verdades também para o caso do padre .
Como um representante da classe dominante de São José dos Pinhais nos anos
1870, e diretamente ligado à produção agrícola, o padre não poderia estar distante do
mercado de crédito que outras regiões experimentaram. 66 Em dívidas passivas (isto é,
dívidas devidas) descritas no seu inventário, havia uma soma de 530$000. Já em dívidas
ativas (a receber) o padre possuía uma quantia devida de cerca de 13:000$000,
representando 60% do total de seu monte-mor. Algumas vezes, parte das dívidas
descritas em inventários no século XIX, incluía gastos com ritos fúnebres, entretanto
isto não ocorria com padres, que tinham todos os últimos rituais bancados pela Igreja.
Então, através destes números, podemos inserir o padre Matias Mendes de Sá e vários
membros de sua família em um mercado de crédito, muito importante para a aquisição e
manutenção da propriedade rural, para a compra de escravos e para suprir necessidades
do cotidiano. 67
A ordem eclesiástica já possuía por si só um elemento que possibilitava a
ascensão social. Através do estudo nos seminários, os padres aprendiam a ler e escrever
e quando ordenados sacerdotes e postos à frente de uma paróquia, dispunham de uma
grande rede de influências que serviam como veículos para a prosperidade econômica.
É deste modo que o padre Matias Carneiro Mendes de Sá morre e deixa diversos bens.
Ao morrer, o padre institui como seus legatários diversos parentes seus que se
encontravam residindo em outras regiões, como Curitiba, Campo Largo e Ponta Grossa.
Esta lista de herdeiros é muito importante pois demonstra que o padre queria manter
suas propriedades no seio da família. E mais, a família espalhada pelas diversas regiões,
traz à luz uma possível estratégia familiar de mobilidade. Citando Alida Mecalf, que
estudou o contexto de uma vila em São Paulo no século XVIII, Hebe Mattos aponta que
a migração era uma opção permanente nas estratégias de sobrevivência das famílias nas
regiões rurais, na medida em que a concentração econômica e social, que decorre da
expansão da produção mercantil-escravista, vai paulatinamente reduzindo as
oportunidades na região. Também se dispersavam os filhos pelas regiões vizinhas na
busca de novos laços, que lhes garantisse o acesso a terra ou de outras formas de
sobrevivência. 68
66 Ibidem, Cap. 4
67 Ibidem, p. 187-188.
68 Mattos, Hebe. Das cores, opus cit., p. 29
46