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ESTRATÉGIAS DE VIDA E DE MORTE - Departamento de História ...

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econômica das camadas proprietárias do universo agrário fluminense do período<br />

estudado e nas suas possibilida<strong>de</strong>s concretas <strong>de</strong> expansão <strong>de</strong> investimentos e capacida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> acumulação. Trata-se <strong>de</strong> perceber que antes que a crise <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra inaugurada<br />

com a extinção do tráfico começasse a produzir plenamente seus efeitos, a proprieda<strong>de</strong><br />

cativa encontra-se difundida para além das fronteiras da agricultura comercial,<br />

exportadora ou não. 40<br />

Não raro, o lavrador pobre apresentava a condição <strong>de</strong> proprietário <strong>de</strong> terras,<br />

mesmo que estas merecessem, na maioria dos casos, baixíssima avaliação. Assim, numa<br />

organização agrária ainda escravista on<strong>de</strong> apenas lentamente se expandia a agricultura<br />

comercial, a proprieda<strong>de</strong> fundiária se mostra como um parâmetro impróprio para<br />

separar pobreza e riqueza ou para <strong>de</strong>finir absolutamente a construção <strong>de</strong> hierarquias<br />

sociais.<br />

Deste modo, em diversas regiões agrárias, toda uma “pobreza agrícola”,<br />

eventualmente proprietária <strong>de</strong> pequenas extensões <strong>de</strong> terreno ou mesmo <strong>de</strong> alguns<br />

escravos, disputará com a expansão agrícola que se processava sob a égi<strong>de</strong> do capital<br />

comercial seu espaço <strong>de</strong> sobrevivência. Seriam “pobres” mas não “<strong>de</strong>spossuídos”, pois<br />

mesmo quando sem terras ou escravos, conseguiam prover sua subsistência com o<br />

resultado <strong>de</strong> suas lavouras – diferenciando-se, assim, fundamentalmente do escravo,<br />

que, antes <strong>de</strong> tudo, trabalhava a lavoura <strong>de</strong> outro. 41<br />

Por fim, Mattos diz que se pensarmos a extrema flaci<strong>de</strong>z dos referenciais <strong>de</strong><br />

diferenciação das categorias sociais por ela analisadas <strong>de</strong>corrente do fato <strong>de</strong> que o<br />

mundo dos homens livres encontra-se hierarquizado entre “dominadores e dominados”,<br />

<strong>de</strong>vemos ter em mente que esta diferenciação não brotava <strong>de</strong> qualquer dado estrutural<br />

absoluto como a proprieda<strong>de</strong> da terra ou <strong>de</strong> escravos, mas do somatório <strong>de</strong> vários<br />

<strong>de</strong>terminantes <strong>de</strong> riqueza e po<strong>de</strong>r naquela socieda<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> a “fortuna”, em seu sentido<br />

estrito, ocupava um papel essencial.<br />

Assim, se relações <strong>de</strong> tipo pessoal regulam a hierarquia <strong>de</strong> proprietários<br />

integrados à produção comercial e as re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> representação política, somente essa<br />

própria hierarquia e os múltiplos interesses que esse tipo <strong>de</strong> relação atendia<br />

(financiamento, apoio político, etc.) <strong>de</strong>terminavam quem eram os gran<strong>de</strong>s produtores e<br />

quem eram os médios produtores em cada situação local. Ao mesmo tempo, se a<br />

abundância <strong>de</strong> terras livres criava uma margem ampliada <strong>de</strong> ação para o pequeno<br />

40 Ibibem, p. 91-92<br />

41 Ibi<strong>de</strong>m, p. 95<br />

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