Anais do II Simpósio Nacional de Musicologia - EMAC - UFG
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material folclórico brasileiro<br />
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A partir <strong>do</strong> material folclórico brasileiro, são construí<strong>do</strong>s arranjos para piano em grupo,<br />
on<strong>de</strong> a técnica pianística básica é abordada gradativa e concomitantemente ao <strong>de</strong>senvolvimento das<br />
habilida<strong>de</strong>s funcionais. O professor, consciente da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada turma e aluno, po<strong>de</strong> explorar os<br />
diferentes aspectos da aprendizagem e da técnica pianística, como a precisão rítmica, expressivida<strong>de</strong>,<br />
dinâmica, tipos <strong>de</strong> articulação, frasea<strong>do</strong>, <strong>de</strong>dilha<strong>do</strong>, escalas e arpejos, uso <strong>do</strong> pedal, assim como os<br />
diversos tipos <strong>de</strong> memória.<br />
Para a construção <strong>do</strong> arranjo, assim como para uma interpretação coerente, é necessário que<br />
o aluno tenha conhecimento da origem <strong>de</strong> cada canção folclórica assim como a compreensão da letra.<br />
De acor<strong>do</strong> com Kaplan (1978, pág. 20), “o grau <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> execução <strong>de</strong> uma<br />
<strong>de</strong>terminada habilida<strong>de</strong> ou <strong>de</strong>streza não se encontra nela mesma, e sim na capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> realização <strong>do</strong><br />
indivíduo que a executa”. Os diferentes aspectos da execução pianística que po<strong>de</strong>m exigir maior esforço<br />
não são percebi<strong>do</strong>s e resolvi<strong>do</strong>s da mesma maneira, pois “cada aluno apresenta potencialida<strong>de</strong>s, gostos,<br />
dificulda<strong>de</strong>s e necessida<strong>de</strong>s particulares” (GANDELMAN, 1997, pág. 29).<br />
Para exercitar a leitura <strong>de</strong> acor<strong>de</strong>s cifra<strong>do</strong>s, o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> padrões <strong>de</strong> acompanhamento<br />
e a improvisação, foi utilizada a canção “Tutu marambá”. “Tutu marambá, não volte mais cá / Que a<br />
mãe da criança lhe manda matar”, diz a letra <strong>do</strong> trecho inicial da canção que será <strong>de</strong>monstra<strong>do</strong> a seguir.<br />
Lauria (2010) esclarece que a canção “Tutu marambá” é uma canção africana registrada por<br />
Veríssimo <strong>de</strong> Melo, encontrada em 1869. A autora comenta que Luís Câmara Cascu<strong>do</strong> estu<strong>do</strong>u o “tutu”<br />
no “Ciclo da angústia infantil” 1 , e explica que<br />
Tutu é uma corruptela da palavra quitutu, <strong>do</strong> idioma quimbun<strong>do</strong> ou angolês, significan<strong>do</strong><br />
‘papão’ [...]. Diz a cultura popular que o melhor lugar para o primeiro contato com os aspectos<br />
ruins da vida é o colo. No colo e pelo sono, o bebê elabora e exorciza as perdas, o me<strong>do</strong>. Quan<strong>do</strong><br />
na vida real esses encontros acontecem, a vivência é atualizada e já não é <strong>de</strong> to<strong>do</strong> <strong>de</strong>sconhecida.<br />
No Brasil tutu é um porco <strong>do</strong> mato que foge para a floresta quan<strong>do</strong> a mãe <strong>do</strong> neném bate o pé<br />
no chão e diz “xô”. (pág. 95)<br />
A ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> composição <strong>de</strong> grupo foi iniciada com o professor executan<strong>do</strong> a melodia da<br />
canção. A seguir, os alunos foram motiva<strong>do</strong>s a escrever a melodia, a partir da memória auditiva, sem<br />
contato com a partitura. A educação da memória musical é aconselhada por Barbacci (1965, pág. 46)<br />
e <strong>de</strong>ve ser iniciada logo que o aluno comece seus estu<strong>do</strong>s. A composição foi construída em conjunto,<br />
porém cada aluno foi responsável pela sua parte, <strong>de</strong>sta maneira, cada um escreveu <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com o seu<br />
respectivo <strong>do</strong>mínio técnico <strong>do</strong> instrumento.<br />
Após o exercício <strong>de</strong> composição, foi apresentada aos alunos a adaptação realizada pelo<br />
professor, que fez uma análise em conjunto <strong>do</strong>s aspectos técnicos aborda<strong>do</strong>s, estuda<strong>do</strong>s individualmente<br />
e a seguir executa<strong>do</strong> em conjunto.<br />
Esta maneira <strong>de</strong> abordar a técnica básica pianística vem-se provan<strong>do</strong> eficaz, visto que as<br />
turmas <strong>de</strong> piano complementar são compostas por alunos <strong>de</strong> diferentes níveis. Além <strong>de</strong> incentivar a<br />
1 “Ciclo da angústia infantil” é o estu<strong>do</strong> da presença <strong>do</strong>s mitos, me<strong>do</strong>s, ameaças nas cantigas <strong>de</strong> ninar. Câmara Cascu<strong>do</strong><br />
diz que a cultura popular consi<strong>de</strong>ra o colo o lugar mais seguro quan<strong>do</strong> se sente me<strong>do</strong>. O encontro das crianças com o la<strong>do</strong><br />
sombrio da vida, por via das cantigas <strong>de</strong> ninar, fortalece a alma infantil, que exorciza seus me<strong>do</strong>s <strong>do</strong>rmin<strong>do</strong>. (LAURIA,<br />
2010, pág. 95)<br />
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