Anais do II Simpósio Nacional de Musicologia - EMAC - UFG

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– Quanto ao ensino formal, ministrado em estabelecimentos educacionais, inclusive
em escolas de música, eles também aparecem com freqüência nos periódicos, revelando a presença
de professoras (mulheres) e de diversas características curriculares. Os conteúdos de ensino dos
estabelecimentos (inclusive os de música) são muitas vezes descritos nos jornais, revelando, entre outros
aspectos, currículos diferenciados para meninos e meninas:
Novo collegio de educação de meninas [grifo nosso], em que só ensinam senhoras todas as
prendas próprias do sexo, inclusive francês, italiano, música, piano [grifo nosso] e dança. Na
rua da Prainha entre os n. 106 e 110 (O Despertador, 5 de fevereiro de 1840).
Os anúncios permitem observar aspectos ligados à educação formal feminina, segundo
valores da época, como o ensino de diferentes conteúdos e práticas, como gramática, geografia, música,
dança, desenho, bordado, culinária e costura, visando desenvolver habilidades e aptidões desejáveis
para uma moça de família (“prendas próprias do sexo”). Esses conteúdos e práticas não se destinavam à
profissionalização, mas faziam parte da apresentação da moça, indicando seu preparo para desempenhar
sua missão como responsável pela boa condução das atividades domésticas e da educação dos filhos. Os
anúncios apresentam convergências e divergências entre currículos destinados a meninos e meninas (o
ensino de música pode figurar em ambos, mas o currículo das meninas é muito mais restrito).
A directora do, collegio da rua Formosa, na Cidade Nova [...], participa que no dia 7 do corrente
mêz, fará abertura dos seus trabalhos, continuando com aquella assiduidade conhecida na
educação primaria de meninas [grifo nosso]: primeiras letras, marcar, cozer,..., musica [grifo
nosso], dança, desenho, etc. Os senhores pais que quizerem utilizar de seu prestimo podem
dirigir-se ao mencionado collegio, na certeza de que suas jovens filhas serão tratadas com
aquelle desvello e docilidade que requer o delicado sexo [grifo nosso].” (O Despertador, 3 de
Janeiro de 1840)
A venda de “métodos de ensino de música” aparece constantemente na imprensa, revelando
um mercado significativo, conforme ilustra o anúncio a seguir: “Anúncios – Música – Método de violão
ou guitarra francesa, traduzido em português; vende-se na imprensa de música de P. Laforge. Rua da
Cadeia n. 89.” (O Despertador, 5/12/1840). Essa demanda transparece nos anúncios abaixo, em que
são oferecidas, em um deles, por um professor (homem), do “Conservatório de Paris”, aulas de música
para meninos e meninas, e para “homens e senhoras” (diurnas e noturnas, sem explicitar se as aulas são
ministradas conjuntamente para homens e mulheres) e, no outro, “aulas noturnas de piano”:
Anúncio - Escola Artística e Especial de Canto e Piano de Pedro Guigon do Conservatório
de Paris, professor de canto, piano, órgão e composição. Os cursos têm lugar de manhã e de
tarde até as 10 horas da noite, todos os dias uteis, com excepção das quintas-feiras. [...] As
mensalidades para os homens e senhoras [grifo nosso] são de 30$, 20$ e 10$; as dos meninos e
meninas [grifo nosso] de 15$, 10$ e 5$000. [...]. (Jornal do Commercio, 11 de setembro de 1863).
Curso nocturno de piano [grifo nosso]. Nas segundas, quartas e sextas-feiras, pelo professor
Geraldo Horta, na rua dos Ourives n. 26, sobrado. (Jornal do Commercio, 14 de setembro
de 1863).
Cabe destacar que o Relatório da Academia de Belas Artes e Conservatório de Música
(Janeiro a Dezembro 1878) registra a matrícula de 112 alunos, sendo 75 do sexo feminino e 37 do sexo
masculino. Essa proporção acentuada de alunas no Conservatório do Rio de Janeiro merecerá atenção
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