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Anais do II Simpósio Nacional de Musicologia - EMAC - UFG

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conquistas <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> mo<strong>de</strong>rno, tais como, a vacina, o cinematógrafo, a luz elétrica, o automóvel, a<br />

fotografia, colaboram para que se procure tornar o Rio <strong>de</strong> Janeiro uma cida<strong>de</strong> “civilizada”, ou seja, uma<br />

cida<strong>de</strong> nos mol<strong>de</strong>s europeus, mais notoriamente, parisienses.<br />

A solução encontrada foi escon<strong>de</strong>r e ou <strong>de</strong>struir aquilo que significava atraso aos olhos das<br />

nossas elites. Assim, neste projeto, o povo pobre com suas habitações, os cortiços, as vielas escuras<br />

e esburacadas, as epi<strong>de</strong>mias, os becos mal afama<strong>do</strong>s eram notas dissonantes. Velloso (1988) observa<br />

que<br />

Alegan<strong>do</strong> garantir melhores condições <strong>de</strong> vida à população pobre, o governo <strong>de</strong>sapropria e põe<br />

abaixo gran<strong>de</strong> parte <strong>do</strong>s prédios e casarões das ruas centrais da cida<strong>de</strong>. Desalojadas <strong>do</strong> centro,<br />

as camadas populares são obrigadas a se <strong>de</strong>slocarem para os subúrbios e favelas da periferia.<br />

(p. 11)<br />

Esse momento <strong>de</strong> metamorfose e adaptação vivi<strong>do</strong> pela cida<strong>de</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro, no qual<br />

ficam expostas suas contradições on<strong>de</strong> convivem o mo<strong>de</strong>rno e o antigo - transformação da cida<strong>de</strong><br />

colonial em “cida<strong>de</strong> maravilhosa” - é mostra<strong>do</strong>, nos principais jornais cariocas <strong>do</strong> início <strong>do</strong> século<br />

XX, nas charges <strong>de</strong> Raul Pe<strong>de</strong>rneiras, nome liga<strong>do</strong> tanto ao jornalismo, ao teatro como à carreira<br />

jurídica.<br />

Os jornais, nesses primeiros anos <strong>do</strong> século XX, ao apresentarem charges e caricaturas, que<br />

têm o humor e a ironia como alimento, introduzem uma nova abordagem jornalística. Moura (2009)<br />

observa:<br />

Diferente <strong>do</strong>s folhetins <strong>do</strong> início <strong>do</strong> século XIX, que abrangiam <strong>de</strong>s<strong>de</strong> artigos sobre medicina<br />

até notícias curtas e romances, o jornal, nesse momento, apresenta, além <strong>de</strong> crônicas e <strong>de</strong>bates<br />

sobre as questões políticas, um aspecto visual mais atrativo, forma<strong>do</strong>, principalmente, por<br />

charges e caricaturas que, tomadas como elemento forma<strong>do</strong>r <strong>de</strong> opinião, também cumprem a<br />

função <strong>de</strong> introduzir no jornal a dimensão cultural das ruas. (p. 09)<br />

É interessante observar o fato <strong>de</strong> que a charge tanto usa imagens como palavras, sen<strong>do</strong> que,<br />

na maioria das vezes, essas servem para comentar aquelas. O cineasta Jean-Luc Godard, cita<strong>do</strong> por Joly<br />

(1996, p. 115), <strong>de</strong> forma sintética e precisa, comenta acerca da complementarida<strong>de</strong> que há entre palavra<br />

e imagem: “palavra e imagem são como ca<strong>de</strong>ira e mesa: se você quiser se sentar à mesa, precisa <strong>de</strong><br />

ambas.” Confirman<strong>do</strong> este raciocínio, Joly (1996) comenta:<br />

Assim, quer queiramos, quer não, as palavras e as imagens revezam-se, interagem, completamse<br />

e esclarecem-se com uma energia revitalizante. Longe <strong>de</strong> se excluir, as palavras e as imagens<br />

nutrem-se e exaltam-se umas às outras. Corren<strong>do</strong> o risco <strong>de</strong> um para<strong>do</strong>xo, po<strong>de</strong>mos dizer que<br />

quanto mais se trabalha sobre as imagens mais se gosta das palavras. (p. 133)<br />

É exatamente uma charge <strong>de</strong> Raul Pe<strong>de</strong>rneiras que elegemos como objeto para discussão:<br />

“Dize-me o que cantas... direi <strong>de</strong> que bairro és”. Da leitura <strong>do</strong> título já po<strong>de</strong>mos perceber a forte relação<br />

com o cotidiano, visto que o mesmo faz uma alusão clara ao provérbio popular: “Dize-me com quem<br />

andas... direi quem és”. Assim, com essa charge <strong>de</strong> Pe<strong>de</strong>rneiras, po<strong>de</strong>mos pensar por imagens ou nas<br />

imagens, procuran<strong>do</strong>, <strong>de</strong>ssa forma, pistas para chegarmos às práticas, às representações, às visões <strong>de</strong><br />

mun<strong>do</strong>, às significações, assim como às leituras da cida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> seus espaços.<br />

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