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Anais do II Simpósio Nacional de Musicologia - EMAC - UFG

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consi<strong>de</strong>rações Finais<br />

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A música molda o tempo <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> particular e imprime na alma humana uma experiência<br />

concreta <strong>de</strong> suas qualida<strong>de</strong>s rítmicas essenciais. A arte <strong>de</strong> combinar os sons <strong>de</strong> maneira que agra<strong>de</strong> ao<br />

ouvi<strong>do</strong> representa uma importante fonte <strong>de</strong> estímulos, equilíbrio e felicida<strong>de</strong>.<br />

Há uma gran<strong>de</strong> energia produzida num som forte, uma energia tensa num som agu<strong>do</strong>, uma<br />

energia relaxante num som fraco e assim por diante. [...] E, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que esses sons são produzi<strong>do</strong>s<br />

por nós, com nossos corpos, temos um instintivo sentimento <strong>de</strong> simpatia quan<strong>do</strong> outros os<br />

produzem, para nosso benefício e lazer (SCHAFER, 1991, p.176).<br />

Consi<strong>de</strong>ra-se, portanto, que a Banda <strong>de</strong> Couro é um <strong>do</strong>s marcos da tradição reconhecida e<br />

mantida pela comunida<strong>de</strong> local, é uma entida<strong>de</strong> em que tu<strong>do</strong> é compartilha<strong>do</strong> e celebra<strong>do</strong> (CANCLINI,<br />

2003) conceben<strong>do</strong>-se como um lugar específico com prática e conteú<strong>do</strong> emocional, integran<strong>do</strong> e<br />

<strong>de</strong>finin<strong>do</strong> o sentimento <strong>de</strong> pertencimento à cultura pirenopolina.<br />

O lugar é, pois, o centro das ações e das intenções on<strong>de</strong> realizamos nossos eventos mais<br />

significativos (RELPH, 1980). Isso tem uma função integra<strong>do</strong>ra, servin<strong>do</strong> para <strong>de</strong>finir o sentimento <strong>de</strong><br />

pertencimento da comunida<strong>de</strong> e para a perpetuação <strong>de</strong>sse fenômeno festivo. A banda constitui um lugar<br />

a partir <strong>do</strong> envolvimento e da compreensão das experiências vividas pelos participantes com os locais<br />

<strong>de</strong> realização <strong>do</strong> festejo, transforman<strong>do</strong> este em entida<strong>de</strong>s distintas, já que as experiências humanas nele<br />

vivenciada são repletas <strong>de</strong> significações próprias. Com efeito, a Banda <strong>de</strong> Couro, sen<strong>do</strong> <strong>de</strong>finida a partir<br />

<strong>de</strong> um dispositivo espacial e visto como um lugar (TUAN, 1980), impõe-se como marco para referir-se<br />

à tradição reconhecida e mantida pela comunida<strong>de</strong> local.<br />

Segun<strong>do</strong> Augé “vivemos num mun<strong>do</strong> que ainda não apren<strong>de</strong>mos a olhar. Temos que<br />

reapren<strong>de</strong>r a pensar o espaço” (1994, p. 38). Temos também que apren<strong>de</strong>r a ouvir o espaço e a<br />

festa é um momento que nos propicia esta vivência e este aprendiza<strong>do</strong>. A execução das músicas<br />

tradicionais da festa <strong>do</strong> Divino e <strong>de</strong>ntre elas as tocadas pela Banda <strong>de</strong> Couro produzem a euforia e a<br />

efervescência6 <strong>de</strong> um povo que no dizer <strong>de</strong> Schafer (2009) ouve e <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> os sons que o estimula ao<br />

exigir a presença da música, pois, esta atua no seu prazer, proporcionan<strong>do</strong> experiências emotivas e<br />

dan<strong>do</strong>-lhe compreensão à vida.<br />

Sempre que se assimila que o mun<strong>do</strong> à volta está mudan<strong>do</strong> rapidamente, a resposta peculiar<br />

é evocar um passa<strong>do</strong> i<strong>de</strong>aliza<strong>do</strong> e estável. Os indivíduos po<strong>de</strong>m olhar para trás por várias razões,<br />

porém uma é comum a to<strong>do</strong>s: a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> adquirir um senti<strong>do</strong> <strong>do</strong> eu e referenciar sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />

(HALL, 2003). O culto ao passa<strong>do</strong>, a sauda<strong>de</strong> <strong>do</strong>s tempos i<strong>do</strong>s e o me<strong>do</strong> <strong>de</strong> mudar as tradições locais são<br />

sentimentos latentes nos mora<strong>do</strong>res <strong>de</strong> Pirenópolis que se envolvem diretamente nos eventos festivos<br />

presos às tradições locais como a Festa <strong>do</strong> Divino, as procissões da Semana Santa e o Reina<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

Nossa Senhora <strong>do</strong> Rosário <strong>do</strong>s Pretos e o Juiza<strong>do</strong> <strong>de</strong> São Benedito, to<strong>do</strong>s la<strong>de</strong>a<strong>do</strong>s pelos seus sons<br />

característicos. Ao ouvir as músicas executadas pela Banda <strong>de</strong> Couro somada a outras experiências da<br />

vida cotidiana local, renova-se o sentimento que o pirenopolino tem em si mesmo como tal.<br />

6 Para Durkheim, a festa é um esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> “excesso” e “efervecência” em que o homem “é transporta<strong>do</strong> fora <strong>de</strong> si, <strong>de</strong> suas<br />

ocupações e preocupações ordinárias” (1989, p. 456). Freud, paralelamente, consi<strong>de</strong>ra que a festa “é um excesso permiti<strong>do</strong>,<br />

ou melhor, obrigatório, a ruptura solene <strong>de</strong> uma proibição” (1974, p.168).<br />

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