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Anais do II Simpósio Nacional de Musicologia - EMAC - UFG

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THEATRO APOLLO.<br />

Companhia Guilherme da Silveira<br />

HOJE, Sába<strong>do</strong>, 11 <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 1891<br />

22ª apresentação da revista fluminense, em 2 atos e 11 quadros, original <strong>do</strong> [...] escritor<br />

Arthur Azeve<strong>do</strong>, música instrumentada e ensaiada pelo maestro A. Lindner: A VIAGEM AO<br />

PARNASO. [...]<br />

Em ensaio – O Reina<strong>do</strong> das Mulheres, versão <strong>de</strong> Souza Bastos. Precisa-se <strong>de</strong> 120 mulheres,<br />

figurantes, para esta peça <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> espetáculo [grifo nosso].<br />

O espetáculo cita<strong>do</strong> teve sua estréia prorrogada por algumas vezes. De acor<strong>do</strong> com<br />

comentários na seção “Salões e concertos” <strong>do</strong> Jornal <strong>do</strong> Brasil (1<strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1891), uma das causas<br />

<strong>de</strong>ssas prorrogações era a conduta feminina, que dificultava a manutenção da or<strong>de</strong>m.<br />

Desta vez não são, com certeza, os alçapões e tramóias que obrigaram o teatro Apollo a adiar<br />

a primeira récita <strong>do</strong> Reino das Mulheres. Foram as cento e oitenta, que o empresário tão<br />

impru<strong>de</strong>ntemente meteu, <strong>de</strong> portas a <strong>de</strong>ntro! [...]<br />

Os burros <strong>do</strong>s bon<strong>de</strong>s, que passam pela rua <strong>do</strong> Lavradio, espantam-se, com a gralhada que se<br />

faz nos ensaios [...] Também, quem é que lembra <strong>de</strong> meter to<strong>do</strong> aquele mulherio <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um<br />

palco, embora <strong>de</strong> ferro e <strong>de</strong>linea<strong>do</strong> pelos engenheiros da casa Eiffel?<br />

To<strong>do</strong>s os que têm familia sabem o que é uma saida.<br />

As senhoras levantam-se <strong>de</strong> madrugada, lavam-se, penteiam-se, calçam-se, com as dificulda<strong>de</strong>s<br />

inerentes á introdução <strong>de</strong> um conteú<strong>do</strong> maior <strong>do</strong> que o continente; arrocham espartilho,<br />

operação para que, quase sempre, é necessário o concurso da mucama e, ás vezes mesmo da<br />

cozinheira; então as saias, que têm sempre pouca ou muita goma; envergam a saia <strong>do</strong> vesti<strong>do</strong><br />

que infalivelmente está curta ou <strong>de</strong>mais comprida; veste-se o corpinho, que nem sempre está em<br />

harmonia com os aperto <strong>do</strong> colete e põe-se o chapéu que, oh raiva! Não acerta com o pentea<strong>do</strong>,<br />

que ficou alto ou que, por ter pluma azul, não acerta também com o vesti<strong>do</strong>, que é ver<strong>de</strong> lagarto!<br />

[...]<br />

Ora imaginem que todas as actrizes todas as coristas e as cento e oitenta comparsas que<br />

vão figurar no Reino das Mulheres têm também que sair <strong>do</strong>s basti<strong>do</strong>res e, <strong>de</strong> mais a mais,<br />

ataviadas com trajes que não representam o seu cotidiano. As modistas entregam nos<br />

camarins, às magras, os vesti<strong>do</strong>s que pertenciam á seção das gordas [...][grifo nosso]<br />

A visão preconceituosa sobre o comportamento feminino po<strong>de</strong> ser percebida nesse texto, no<br />

qual não parece haver intenção <strong>de</strong> <strong>de</strong>squalificar a mulher como profissional, mas <strong>de</strong> <strong>de</strong>squalificá-la como<br />

mulher, ressaltan<strong>do</strong> aspectos como vaida<strong>de</strong> e futilida<strong>de</strong>.<br />

Não tivemos evidências explícitas, até o momento, da condição social <strong>de</strong>ssas mulheres atrizes,<br />

mas pelo que já foi levanta<strong>do</strong> na literatura especializada, po<strong>de</strong>mos supor que as mesmas não faziam parte<br />

das camadas sociais mais elevadas. Cabe indagar: que mulheres seriam estas que se propunham a sair<br />

<strong>de</strong> casa para trabalhar no teatro? De acor<strong>do</strong> com as citações abaixo (ABREU, 1989), po<strong>de</strong>mos perceber<br />

que o trabalho feminino não era necessariamente bem visto pela socieda<strong>de</strong>, pois expunha a mulher aos<br />

“perigos” da rua e lhe conferia alguma in<strong>de</strong>pendência, minan<strong>do</strong> o po<strong>de</strong>r <strong>do</strong> mari<strong>do</strong> e <strong>de</strong>svian<strong>do</strong>-a <strong>do</strong><br />

papel <strong>de</strong> mãe.<br />

A rua, no simbólico <strong>do</strong>s discursos juristas, estava cheia <strong>de</strong> tentações e <strong>de</strong> <strong>de</strong>svios. (p.47)<br />

A mulher trabalha<strong>do</strong>ra ameaçava, a nível simbólico, a família, porque se tornaria liberada <strong>do</strong><br />

mari<strong>do</strong>, e inviabilizaria a sua posse pelo homem. Assim, a mulher pobre que precisava trabalhar<br />

trazia <strong>de</strong> si mesma uma <strong>do</strong>ença, por não se reduzir ao papel <strong>de</strong> mãe, fator fundamental, junto<br />

com o machismo, para a estabilida<strong>de</strong> conjugal. (p.79)<br />

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