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Anais do II Simpósio Nacional de Musicologia - EMAC - UFG

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Compreen<strong>de</strong>r o espaço como um “lugar pratica<strong>do</strong>”, conforme Certeau (2007, p. 202), é,<br />

também, visualizar a sinergia existente entre espaço e socialida<strong>de</strong>, pois, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com Maffesoli (1984,<br />

p. 52), “ao la<strong>do</strong> <strong>de</strong> sua inscrição temporal, a socialida<strong>de</strong> em seus vários aspectos possui igualmente uma<br />

dimensão espacial cuja importância não po<strong>de</strong> ser negligenciada”.<br />

Por outro la<strong>do</strong>, apreen<strong>de</strong>r as representações, entendidas como o resulta<strong>do</strong> da intersercção<br />

entre o “vivi<strong>do</strong> e o concebi<strong>do</strong>”, que essa socieda<strong>de</strong>, no momento em tela, tinha acerca <strong>de</strong> si mesma é<br />

um fator essencial para se po<strong>de</strong>r fazer um possível contorno <strong>de</strong>ste tempo, em suas especificida<strong>de</strong>s e,<br />

então, <strong>de</strong>linear a conjuntura histórica vivida. Chartier (1990, p. 17) observa que “as representações<br />

<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> social assim construídas, embora aspirem à universalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um diagnóstico funda<strong>do</strong><br />

na razão, são sempre <strong>de</strong>terminadas pelos interesses <strong>de</strong> grupo que as forjam. Daí, para cada caso, o<br />

necessário relacionamento <strong>do</strong>s discursos proferi<strong>do</strong>s com a posição <strong>de</strong> quem os utiliza.” E que “a tarefa<br />

primeira <strong>do</strong> historia<strong>do</strong>r, como <strong>do</strong> etnólogo, é, portanto, reencontrar essas representações antigas, na sua<br />

irredutível especificida<strong>de</strong>, isto é, sem as envolver em categorias anacrônicas nem as medir pelos padrões<br />

da utensilagem mental <strong>do</strong> século XX, entendida implicitamente como o resulta<strong>do</strong> necessário <strong>de</strong> um<br />

progresso contínuo” (1990, p. 37)<br />

A charge <strong>de</strong> Pe<strong>de</strong>rneiras, compreendida como discurso, lembran<strong>do</strong>, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com Brito<br />

(2008, p. 34), que “é através <strong>do</strong>s discursos que atribuímos senti<strong>do</strong> à realida<strong>de</strong>, impon<strong>do</strong> um senti<strong>do</strong> em<br />

meio à infinida<strong>de</strong> <strong>de</strong> senti<strong>do</strong>s possíveis <strong>de</strong> serem apreendi<strong>do</strong>s” <strong>de</strong>ixa clara a forte relação entre cida<strong>de</strong> e<br />

música ou, mais especificamente, entre os bairros <strong>de</strong> uma cida<strong>de</strong>, Rio <strong>de</strong> Janeiro, e as diversas músicas,<br />

sen<strong>do</strong> que o título da charge já faz referência direta a estas e àqueles.<br />

Em todas as tiras da charge há algo em comum: o canto acompanha<strong>do</strong>, em um ambiente<br />

<strong>do</strong>méstico, interpreta<strong>do</strong> para uma audiência. No entanto, as semelhanças parecem parar por aqui, porque<br />

o que fica mais visível é a exposição das alterida<strong>de</strong>s e, assim, das i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s.<br />

Fica claro, pela leitura da charge, que a apresentação lírica, (terceira tira) possivelmente<br />

árias <strong>de</strong> ópera, cantadas em italiano, acompanhadas ao piano – gênero europeu, mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> civilização<br />

– está relacionada aos bairros nobres <strong>de</strong> Botafogo, Copacabana, Gávea (e outras babéis); e que,<br />

possivelmente o maxixe, (primeira tira) canta<strong>do</strong> em vernáculo, acompanha<strong>do</strong> ao violão e <strong>do</strong>is<br />

cavaquinhos – gênero nacional, mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> licenciosida<strong>de</strong> e prazer está relaciona<strong>do</strong> aos bairros <strong>de</strong><br />

Cida<strong>de</strong> Nova, Gambôa, Saú<strong>de</strong> (e adjacências). Mais ainda, na segunda tira, possivelmente uma<br />

modinha, temos tanto elementos que fazem parte da primeira, como o canto em português, como da<br />

terceira, a saber, o uso <strong>do</strong> piano.<br />

Pela observação <strong>do</strong>s instrumentos musicais que aparecem nas três tiras das charges: violão e<br />

<strong>do</strong>is cavaquinhos (primeira) e piano (<strong>de</strong>mais), embora que nestas duas últimas, esses instrumentos sejam<br />

<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los diferentes, dan<strong>do</strong>, assim, conotações distintas, revelam práticas musicais diferenciadas.<br />

E essas práticas diferenciadas são revela<strong>do</strong>ras <strong>de</strong> diferentes representações que os grupos sociais em<br />

questão têm <strong>de</strong> si mesmos, pois, conforme Bourdieu, cita<strong>do</strong> por Chartier (2002, p. 177) “a representação<br />

que os indivíduos e os grupos fornecem inevitavelmente através <strong>de</strong> suas práticas e <strong>de</strong> suas proprieda<strong>de</strong>s<br />

faz parte integrante <strong>de</strong> sua realida<strong>de</strong> social”.<br />

De forma genérica, o uso <strong>do</strong> piano, instrumento <strong>do</strong>méstico e símbolo <strong>de</strong> status social<br />

largamente usa<strong>do</strong> pelas elites e pela classe média da Belle Époque carioca, difere <strong>do</strong> uso <strong>do</strong> violão e <strong>do</strong>s<br />

<strong>do</strong>is cavaquinhos, instrumentos populares liga<strong>do</strong>s à rua e às camadas populares, pois, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com<br />

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