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PATRIMÓNIO<br />
Mina do Lousal (Grândola)<br />
Uma Mina para o Turismo<br />
A dimensão da antiga Central Eléctrica, com um pé direito<br />
impressionante, um centro de comando gigantesco e uma<br />
multiplicidade de maquinaria impossível de abarcar com um único<br />
olhar, é apenas a evocação de um tempo de sacrifícios.<br />
O BRILHO das máquinas e o asseio<br />
do chão e das paredes embelezam<br />
um espaço que há menos de duas<br />
décadas era conhecido como “a<br />
frigideira” entre os mineiros do<br />
Lousal, uma mina de pirites no concelho<br />
de Grândola que chegou a<br />
empregar mais de três mil pessoas.<br />
Manuel João, mineiro durante 14<br />
anos no Lousal, é uma enciclopédia<br />
viva sobre a antiga mina. De rosto<br />
vincado pela passagem dos anos e<br />
queimado da exposição ao sol alentejano,<br />
este mineiro de 55 anos de<br />
idade revive com um entusiasmo<br />
surpreendente a sua experiência<br />
profissional com os turistas. E a<br />
enorme sala da antiga Central<br />
Eléctrica, hoje transformada em<br />
museu, serve de palco ideal a esse<br />
exercício de memória: “Aqui, nem<br />
as mulheres da limpeza vinham. A<br />
gente é que fazia tudo. Ninguém<br />
sabia qual era a cor do chão. Era só<br />
óleo. Chamávamos a isto a<br />
frigideira”.<br />
À medida que a visita prossegue<br />
e os turistas contemplam a maquinaria,<br />
o antigo mineiro vai desfiando<br />
o fio da memória: “Às vezes perguntávamos<br />
a nós próprios: onde é<br />
que a malta vai? E a resposta vinha<br />
em conjunto: ‘Vamos ao Tarrafal!’”.<br />
26 TempoLivre <strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong><br />
GUIA<br />
Como ir:<br />
A partir de Lisboa, apanhar a A2<br />
em direcção ao Algarve, sair em<br />
Grândola e tomar a direcção de<br />
Azinheira dos Barros, através da<br />
E.N. 259 e 261. A seguir a Azinheira<br />
dos Barros, uma placa indica Mina<br />
do Lousal para a direita: a aldeia<br />
mineira fica a 10 Km da E.N. 261.<br />
Onde comer<br />
Em pleno complexo turístico da<br />
Mina do Lousal, o Restaurante<br />
Armazém Central serve gastronomia<br />
típica alentejana.<br />
Onde ficar<br />
O complexo mineiro oferece estada<br />
na Albergaria de Santa Bárbara dos<br />
Mineiros. Contacto: 269 508 630<br />
albergariastabarbara@gmail<br />
Frigideira e Tarrafal eram designações<br />
diferentes para o mesmo<br />
objecto: a Central Eléctrica, coração<br />
do funcionamento da Mina de<br />
pirites do Lousal, minério cujo destino<br />
era a produção de ácido sulfúrico,<br />
onde as temperaturas atingiam<br />
valores insuportáveis.<br />
O sofrimento causado pelo calor<br />
não acontecia apenas à superfície.<br />
No interior da mina, as temperaturas<br />
também podiam tornar-se<br />
insuportáveis. E Manuel João não<br />
esquece essa experiência: “um dia,<br />
fui, mais um colega, dentro da mina<br />
arranjar uma máquina que tinha<br />
avariado, a uma profundidade de<br />
470 metros. Ficamos dentro da<br />
mina 38 horas, com uma temperatura<br />
de 50º ou 60º e água até à cintura.<br />
Foi o máximo que fiz, e eu sou<br />
uma criança ao pé desses homens<br />
que foram toda a vida mineiros”.<br />
A exploração mineira do Lousal<br />
terminou em 1988, depois de uma<br />
intensa actividade iniciada em<br />
1900. Um relógio afixado numa<br />
parede da Central Eléctrica regista<br />
desde então o fim dos trabalhos:<br />
15h30, “hora do fecho da mina, com<br />
o turno da manhã”, recorda<br />
Manuel João. A voz ainda denuncia<br />
a emoção desse momento: “o fecho