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Fevereiro 2008 - Inatel

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DE TURBANTE, prepara um delicioso<br />

ceviche de salmão numa<br />

esplanada das Caldas da Rainha.<br />

Acedeu, assim, ao convite da<br />

livraria 107 que costuma promover<br />

encontros com os autores. Um<br />

público atento, assiste ao desempenho<br />

culinário deste argentino.<br />

Na hora da degustação, todos aprovam<br />

a divina iguaria. Vamos por<br />

partes. Chakall, antes de se render<br />

aos encantos dos fogões, foi jornalista<br />

durante sete anos. “Tenho o<br />

curso, mas nunca fui buscar o<br />

diploma”, diz. Nas veias corre-lhe<br />

sangue galego, basco, francês, italiano,<br />

alemão e índio, o que dá uma<br />

mistura explosiva a nível físico.<br />

Talvez devido a essa salgalhada de<br />

culturas, pende-lhe o pé para o<br />

nomadismo. Antes de aterrar na<br />

Europa percorreu a América Latina<br />

de mota. ”Fiz onze mil quilómetros”,<br />

recorda.<br />

Os seus olhos esverdeados brilham<br />

quando recupera as memórias<br />

dos sete países africanos que visitou.<br />

“Apaixonei-me por África. Convivi<br />

com gente interessantíssima,<br />

não ligo à geografia, só me interessam<br />

as pessoas”. Sentiu uma felicidade<br />

intensa que palavra alguma<br />

do mundo ajudaria a descrever.<br />

Jamais esquecerá o lombo de gazela,<br />

temperado com azeite, limão,<br />

mel e cominhos, que preparou no<br />

deserto do Sudão. “Fiz uma fogueira<br />

e assei-o lentamente, à luz<br />

da lua cheia. Nunca uma refeição<br />

me soube tão bem”. Já não apreciou<br />

tanto as minhocas secas e os bifes<br />

de hipopótamo que comeu na<br />

Zâmbia.<br />

Do pólo Norte ao cabo das Agulhas<br />

foi descobrindo os segredos da<br />

cozinha, a que não atribui qualquer<br />

mistério. Acha a comida portuguesa<br />

“fantástica”, até já inventou algumas<br />

receitas de bacalhau, superan-<br />

PAIXÕES<br />

do-se no apuro dos sabores. Sente<br />

prazer em cozinhar, gosta do prazer<br />

de dar prazer. Pertence a uma família<br />

de restauradores, desde há<br />

quatro gerações. O quinto de uma<br />

prole de seis irmãos, nasceu em<br />

1972 em Tibre, Buenos Aires. Cresceu<br />

num ambiente dominado pelas<br />

massas e as carnes de vaca suculentas.<br />

Ainda criança, aprendeu a técnica<br />

dos folhados e dos recheios.<br />

Amigo de cirandar, conta como se<br />

perdeu nos campos. Já noite cerrada,<br />

chegou a casa à hora de jantar. A<br />

partir dessa aventura, ganhou o<br />

nome de Chakall.<br />

Como se define? “Venho da classe<br />

média, quando havia classe média<br />

na Argentina. Cresci no horror das<br />

ditaduras militares em que eram<br />

atiradas pessoas dos aviões. Não<br />

sou de esquerda nem de direita.<br />

Não acredito nas utopias de mudar<br />

o mundo. Respeito os outros, as diferenças<br />

religiosas e sou contra a<br />

violência. Penso que vivo com coerência<br />

e autenticidade”, sublinha.<br />

Desconfia da classe política que<br />

“parece apostada em frustrar as<br />

pessoas”. Mas vota, nem que seja<br />

em branco. É corajoso. Não teme o<br />

fracasso nem a morte. “O medo impede<br />

que avancemos. Há que perder<br />

o medo do ridículo, o medo<br />

cristão do pecado, o medo de relativizar<br />

as coisas. Encaro a morte<br />

com inconsciência, venho de uma<br />

família de loucos. O meu irmão<br />

<strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong> TempoLivre 33

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