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Ser “despistado”<br />
pode ser doença...<br />
Todos nós conhecemos pessoas muito distraídas, sempre ausentes,<br />
como se vivessem noutro planeta: são os<br />
“despistados”…Geralmente estas pessoas são aceites com<br />
benevolência, mas quando é demais pode ser doença e causar<br />
grande embaraço e sofrimento ao próprio.<br />
M.Augusta Drago<br />
Amaior parte das pessoas já<br />
ouviram falar em crianças<br />
hiperactivas e com défice<br />
de atenção. Ignoram, porém,<br />
que estas crianças podem dar<br />
lugar a adultos com as mesmas características.<br />
Mas é mais frequente<br />
encontrar adultos só com défice de<br />
atenção e sem hiperactividade.<br />
A grande maioria destas pessoas<br />
e os que as rodeiam admitem que,<br />
para o bem e para o mal, essa é a<br />
sua natureza, uma maneira diferente<br />
de estar na vida e raramente<br />
procuram ajuda.<br />
As pessoas de que estamos a falar<br />
são aquelas que frequentemente<br />
não conseguem estar atentas durante<br />
muito tempo; frequentemente<br />
erram as tarefas que exigem<br />
esforço de concentração; também<br />
frequentemente parecem não ouvir<br />
quando falamos com elas; saltitam<br />
com frequência de umas tarefas<br />
para outras… Estes sintomas são<br />
persistentes e contínuos, nunca<br />
regredindo de forma espontânea.<br />
Alertam o próprio e os familiares<br />
para a necessidade de procurar<br />
ajuda.<br />
A maioria dos especialistas reconhece<br />
que esta doença se apresenta<br />
segundo três padrões: o indivíduo<br />
desatento, o hiperactivo-impulsivo<br />
e o padrão misto. O adulto com esta<br />
patologia é normalmente portador<br />
dum mau-humor excessivo e frequente.<br />
O comportamento destes<br />
doentes é um factor de grande<br />
instabilidade na vida familiar.<br />
As primeiras perturbações surgem,<br />
em geral, antes dos sete anos e<br />
manifestam-se em pelo menos dois<br />
ou mais ambientes (ex.: na escola e<br />
no emprego) e em casa.<br />
As pessoas com défice de atenção<br />
evitam tarefas monótonas e situações<br />
em que tenham de estar atentos<br />
durante algum tempo, porque<br />
se distraem com qualquer estímulo<br />
irrelevante e exterior à tarefa. Não<br />
conseguem controlar voluntariamente<br />
a atenção, geram frequentemente<br />
situações de constrangimento<br />
social e embaraço nos ambientes<br />
de trabalho. Têm relações crispadas<br />
com os colegas que se queixam de<br />
que “não ouve nada do que se lhe<br />
BOAVIDA<br />
Saúde<br />
diz”. Saltitam de emprego para<br />
emprego. Estas pessoas podem estar<br />
muito motivadas e iniciarem projectos<br />
com grande qualidade, mas são<br />
incapazes de arrancar com eles para<br />
a frente, porque logo a seguir a sua<br />
atenção se dispersa por outras iniciativas<br />
que lhe surgem no momento.<br />
Muitos dos doentes com défice<br />
de atenção são também hiperactivos<br />
e impulsivos. Não conseguem<br />
aguardar a sua vez numa fila e frequentemente<br />
fazem tentativas desastradas<br />
de passar à frente. Esta<br />
impulsividade manifesta-se principalmente<br />
ao volante. Têm uma<br />
condução perigosa que é reconhecida<br />
pelos próprios. Conforme vem<br />
descrito na literatura médica, “a<br />
impulsividade aliada ao défice de<br />
atenção faz destes doentes um perigo<br />
público potencial nas estradas”<br />
As pessoas que sofrem desta<br />
doença vivem com o sentimento de<br />
frustração por não conseguirem<br />
manter um emprego ou realizar as<br />
tarefas que se propõem até ao fim.<br />
Um número significativo sofre de<br />
perturbações de humor/ansiedade<br />
e de consumo excessivo de álcool e<br />
outras substâncias.<br />
É urgente que o défice de atenção<br />
no adulto seja identificado o mais<br />
precocemente possível, porque tem<br />
tratamento e com ele podemos<br />
poupar muito sofrimento aos doentes<br />
e às suas famílias. ■<br />
medicofamilia@clix.pt<br />
<strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong> TempoLivre 69