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Fevereiro 2008 - Inatel

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Pedro Soares<br />

BOAVIDA<br />

À mesa<br />

Arroz – alimento quase…<br />

quase perfeito<br />

O arroz é um extraordinário alimento, versátil, capaz de proporcionar energia de elevada qualidade, fácil<br />

digestão, diversas vitaminas e minerais, boa conservação e baixo preço. Razões mais do que<br />

suficientes para o conhecermos melhor e não o considerarmos um mero acompanhamento quando<br />

afinal, ele é, ou devia ser, a estrela principal de muitas das nossas refeições.<br />

Comecemos pelo principal.<br />

Apesar de o arroz ter<br />

origem no sueste asiático,<br />

os Portugueses são dos<br />

maiores “consumidores” de arroz<br />

da Europa (disponibilidade Kg/per<br />

capita/ano) sendo a região norte e<br />

centro a principal consumidora.<br />

Somos não só grandes consumidores<br />

de arroz, como somos,<br />

provavelmente, o país europeu que<br />

melhor trata o arroz do ponto de<br />

vista culinário. Tanto em qualidade<br />

como em diversidade.<br />

Não creio existir na Europa um<br />

país que tenha, ao mesmo tempo,<br />

uma das suas principais sopas à base<br />

de arroz (a canja), uma das suas<br />

mais emblemáticas sobremesas à<br />

base de arroz (o arroz doce) e<br />

dezenas de pratos onde o arroz é rei.<br />

Poderíamos enumerar por exemplo<br />

e de passagem, o Arroz de Lampreia<br />

de Monção, o Arroz de Sarrabulho<br />

de Ponte de Lima, o Arroz de<br />

Cabidela, o Arroz de Cabrito do<br />

Douro Litoral, o Arroz de Pato de<br />

Lafões, o Arroz de Ossos de Suã de<br />

Oliveira de Azeméis, o Arroz de<br />

Bucho do Ribatejo e o Arroz de<br />

Lingueirão da Praia de Faro. E para<br />

não falarmos de outros pratos<br />

emblemáticos do nosso património<br />

cultural, como as tripas à moda do<br />

Porto ou o cozido à Portuguesa,<br />

onde o arroz tem lugar marcado.<br />

68 TempoLivre <strong>Fevereiro</strong> <strong>2008</strong><br />

Esta presença constante do arroz<br />

à nossa mesa tem a ver com a extraordinária<br />

capacidade desta planta<br />

(a mais comum é a Orysa sativa L.)<br />

de fornecer energia de muito fácil<br />

digestão e aproveitamento pelo<br />

nosso organismo, para além de<br />

diversas vitaminas. Acresce ainda<br />

que o arroz é praticamente isento<br />

de gordura libertando glicose de<br />

uma forma lenta, permitindo um<br />

abastecimento energético aos<br />

órgãos vitais, como o cérebro, de<br />

uma forma constante e eficaz. O<br />

arroz comum não polido, possui<br />

ainda vitaminas no germe e escutelo,<br />

para além de abundantes minerais<br />

na aleurona. As partes externas<br />

do grão possuem também<br />

lenhinas, celulose e hemicelulose,<br />

substâncias essenciais ao bom funcionamento<br />

digestivo, que faziam<br />

deste alimento, a base da alimentação<br />

oriental. Actualmente, o polimento<br />

do arroz, para que este fique<br />

mais branco e de mais fácil cozedura,<br />

retira-lhe uma grande parte do<br />

seu valor vitamínico, mineral e conteúdo<br />

em fibra. Assim, deveremos<br />

preferir o arroz menos polido (também<br />

mais barato), mais escuro ou<br />

paraboiled, processo tecnológico<br />

que preserva parte das qualidades<br />

nutricionais do arroz.<br />

Por outro lado, o arroz pelas suas<br />

qualidades higroscópicas (absorve<br />

os sucos da cozedura) permite reter<br />

minerais que de outra forma se<br />

perderiam. O Arroz de Cabidela e o<br />

Arroz Malandro são exemplos desta<br />

arte antiga de aproveitar ao máximo<br />

os nutrimentos presentes nos sucos<br />

das cozeduras das carnes e hortícolas,<br />

coisa que, por exemplo, a batata<br />

ou o feijão não fazem.<br />

Contudo, o arroz está debaixo da<br />

pressão dos consumidores que cada<br />

vez mais o disputam e da competição<br />

do petróleo. A utilização dos<br />

cereais para a produção de bio-combustíveis,<br />

o aumento brutal dos custos<br />

de transporte e a procura crescente,<br />

levou a índia a proibir recentemente<br />

a quase totalidade das suas<br />

exportações. Desde 2004, houve um<br />

aumento de preços na UE entre 60%<br />

e 100%. De produto básico, o arroz<br />

tende a transformar-se num produto<br />

mais inacessível. Uma oportunidade<br />

para o arroz português das<br />

zonas de produção orizícola do<br />

Mondego, Tejo e Sado e uma<br />

chamada de atenção para os<br />

amantes deste nobre produto e para<br />

a sua protecção. ■

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