Fevereiro 2008 - Inatel

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VIAGENS NA HISTÓRIA | JOÃO AGUIAR O centenário do sangue A viagem que hoje vos proponho nada tem de alegre mas vem muito a propósito, neste início de 2008. Leva-nos a, exactamente, cem anos atrás, ou seja, a 1908. A 1 de Fevereiro desse ano: o dia do regicídio. É, ainda hoje, uma data «política». Mas esclareço desde já que, nesta breve crónica, não contam, de todo, as minhas ideias políticas. Estou a escrever para leitores portugueses, sejam eles republicanos, monárquicos ou indiferentes, porque o tema é, acima de tudo, nacional e porque a data se inscreve na cronologia histórica portuguesa, independentemente das nossas sensibilidades ideológicas. Como tal, ela não deve ser ignorada; como tal, é saudável que façamos sobre ela uma reflexão tão objectiva quanto possível. Por causa desse imperativo de objectividade, abstenho-me de citar aqui qualquer passagem de um documento precioso, do maior interesse psicológico e histórico: as notas íntimas escritas pelo rei D. Manuel II, que são o seu testemunho sobre a morte do rei seu pai e do príncipe herdeiro, seu irmão. Como sabemos, ele estava ao lado deste e em frente daquele, na mesma carruagem, quando ocorreu o atentado. Repito, o documento tem o maior interesse; mas, como é natural, expressa uma experiência subjectiva; é um texto comovente — mesmo porque D. Manuel escrevia bem — e, portanto, não convém para uma tentativa de análise desapaixonada. Quem o quiser ler, encontra-o facilmente na Internet. Quanto a mim, aqui e agora, estabeleço duas referências: uma, o ambiente da época; outra, os ideais políticofilosóficos dessa mesma época. E parto dessas duas referências para tentar classificar o que ocorreu há cem anos no Terreiro do Paço. O ambiente era de crise — crise, sobretudo, psicológica e moral. Não, talvez, cobrindo o país inteiro, mas, 54 TempoLivre Fevereiro 2008 pelo menos, as elites e a camada político-administrativa. A ditadura de João Franco — temporária como declaradamente era, fórmula já usada antes no nosso liberalismo — não lograra «pôr a casa em ordem», talvez porque, afinal, era despida de ideologia; não procurava uma evolução para o sistema, mas apenas apagar fogos. A evolução, essa, seria tentada por D. Manuel II, porém não lhe deram tempo. Quanto aos ideais políticofilosóficos: havia poucos que não fossem revolucionários. Não tenho espaço para fazer aqui uma relação completa e descritiva; mas julgo que podemos considerar, «grosso modo», que os meios de onde finalmente saiu o regicídio pregavam, essencialmente, a liberdade, a fraternidade, a tolerância, o respeito pela lei. Essas são, aliás, noções maçónicas e havia muito de maçónico no campo republicano. Ora, desses altos ideais, o que saiu? Saiu um duplo assassínio, que só por acaso não foi triplo nem quádruplo. Porque a maçonaria da época se deixara contaminar pelo Grande Oriente de França e esquecera os seus verdadeiros ideais; porque os republicanos da época (ressalvadas muito honrosas excepções) meteram entre parêntesis os seus princípios humanitários; porque ganhou o instinto, o ódio e a marginalidade. Não está, pois, em causa a bondade ou a não-bondade dos ideais republicanos, enquanto ideais. Mas está em causa a qualificação do regicídio, como acto. E esse acto foi — expresso apenas a minha opinião, claro — um crime particularmente repugnante.■
BOAVIDA CONSUMO A ASAE tem sido tema dominante nos media, com notícias nem sempre abonatórias para um organismo de defesa dos consumidores. Pág. 56 MÚSICAS A música brasileira em foco: Falamos de “América Brasil”, de Seu Jorge, e “O Melhor de Simone – Começar de Novo”. Pág. 62 CINECLUBE O melhor e o pior na obra do genial actor/realizador Charles Chaplin nesta nova rubrica da TL dedicada ao cinema. Pág. 67 INFORMÁTICA No Ano Internacional do Planeta Terra, dedicado ao Ambiente, a Informática pode ajudar na informação aos jovens. Pág. 70 LIVRO ABERTO Destaque para “História do Riso”, de G. Minois, e “Fernão Lopes-Crónicas”, antologia organizada por A. Borges Coelho com ilustrações de Rogério Ribeiro. Pág. 58 NO PALCO Atenção às peças em cena nos palcos do Teatro Nacional, Comuna, Teatro da Trindade e Maria Matos. Pág. 64 À MESA O arroz é um extraordinário e barato alimento, capaz de proporcionar energia de elevada qualidade, fácil digestão, diversas vitaminas e minerais. Pág. 68 AO VOLANTE O Qasqhai justitifica plenamente as razões para a existência de grande lista de espera na filial ibérica da Nissan... Pág. 71 ARTES Exposições a reter em Fevereiro: Helena Vieira da Silva, na Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva, e Ray Smith e Graça Morais, no Porto. Pág. 60 CINEMA EM CASA Das excelentes e, cada vez mais, numerosas novidades em DVD, seleccionamos, em Fevereiro, quatro filmes dignos da atenção de todos os cinéfilos Pág. 66 SAÚDE Sabia que as crianças hiperactivas e com défice de atenção podem dar lugar a adultos com as mesmas características? Pág. 69 Fevereiro 2008 TempoLivre 55
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